A palavra poesia tem origem grega – poíesis – e significa ação de fazer algo, criação. A poesia é definida como a arte de escrever em versos, aquilo que desperta o sentimento do belo, com o poder de modificar ou imitar a realidade, segundo a percepção do artista. No passado os poemas eram cantados, acompanhados pela lira, um instrumento musical muito comum na Grécia antiga. Por isso, diz-se que a poesia pertence ao gênero lírico. Hoje podemos falar de poemas épicos, dramáticos e líricos.
As linhas de um poema são os versos. Ao conjunto de versos dá-se o nome de estrofe. Os versos podem rimar – ou não – entre si e obedecer a determinada métrica, que é a contagem das sílabas poéticas.
Os versos mais tradicionais são as redondilhas; a redondilha menor tem cinco sílabas, e a maior, sete; os versos decassílabos têm dez sílabas; os alexandrinos, doze.
A rima é um recurso utilizado para dar musicalidade aos versos, baseando-se na semelhança sonora das palavras do final ou, às vezes, do interior dos versos.
Rima, ritmo e métrica são características especiais de um poema e que podem variar, dependendo do movimento literário da época. A partir do Modernismo (1922) os versos livres são os mais utilizados.
O Dia Nacional da Poesia é comemorado no dia 14 de março em homenagem ao nascimento do poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves. Poeta do Romantismo, ele foi um dos maiores nomes da poesia brasileira.
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847 na Fazenda Cabaceiras, comarca de Muritiba, a 42 Km da vila de Nossa Senhora da Conceição de “Curralinho”, hoje Castro Alves, na Bahia, e faleceu a 6 de julho de 1871, na cidade do Salvador, com apenas 24 anos de idade.
Em 1862 ingressou na Faculdade de Direito de Recife. Datam dessa época os seus amores pela atriz portuguesa Eugênia Câmara e a composição dos primeiros poemas abolicionistas. Em 1867 deixa Recife, indo para a Bahia onde faz representar seu drama Gonzaga. Segue depois para o Rio de Janeiro, recebendo incentivos dos escritores José de Alencar, Francisco Otaviano e Machado de Assis.
A 11 de novembro de 1868, em uma caçada nos arredores de São Paulo, feriu o calcanhar esquerdo com um tiro de espingarda, resultando-lhe a amputação do mesmo. Sobreveio, em seguida, a tuberculose, que lhe obriga a retornar à sua terra natal, onde veio a falecer.
Castro Alves pertenceu à Terceira Geração da Poesia Romântica (Social ou Condoreira), caracterizada pelos ideais abolicionistas e republicanos, sendo considerado a maior expressão da época
Suas obras mais destacadas são: Espumas Flutuantes, Gonzaga ou A Revolução de Minas, A Cachoeira de Paulo Afonso,Vozes D’África, O Navio Negreiro, entre outras. Suas poesias são marcadas pela crítica à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos.
Poemas de Castros Alves
Vozes d’África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito…
Onde estás, Senhor Deus?…
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! …
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé…
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas…
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.
Por tenda tem os cimos do Himalaia…
Ganges amoroso beija a praia
Coberta de corais …
A brisa de Misora o céu inflama;
E ela dorme nos templos do Deus Brama,
— Pagodes colossais…
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! …
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã! …
Sempre a láurea lhe cabe no litígio…
Ora uma c’roa, ora o barrete frígio
Enflora-lhe a cerviz.
Universo após ela — doudo amante
Segue cativo o passo delirante
Da grande meretriz.
………………………………
Mas eu, Senhor!… Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro… bebe o pranto a areia ardente;
talvez… p’ra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão…
E nem tenho uma sombra de floresta…
Para cobrir-me nem um templo resta
No solo abrasador…
Quando subo às Pirâmides do Egito
Embalde aos quatro céus chorando grito:
“Abriga-me, Senhor!…”
Como o profeta em cinza a fronte envolve,
Velo a cabeça no areal que volve
O siroco feroz…
Quando eu passo no Saara amortalhada…
Ai! dizem: “Lá vai África embuçada
No seu branco albornoz. . . “
Nem vêem que o deserto é meu sudário,
Que o silêncio campeia solitário
Por sobre o peito meu.
Lá no solo onde o cardo apenas medra
Boceja a Esfinge colossal de pedra
Fitando o morno céu.
…………………………………
Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É, pois, teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?…
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!
………………………………….
Vi a ciência desertar do Egito…
Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d’Europa — arrebatada —
Amestrado falcão! …
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal…
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais… irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p’ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito…
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!…
São Paulo, 11 de junho de 1868
Adormecida
Uma noite, eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina…
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!… A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia…
Quando ela serenava… a flor beijava-a…
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças…
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se…
Mas quando a via despertada a meio,
Pra não zangá-la… sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio…
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor de minha vida!…”