Feliz Natal!

 

Natal 2008 031Foto: Leni David

Compras de Natal

 

Cecília Meireles

A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades. Enche-se de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões que não sobem, anjos e santos que não se movem, estrelas que jamais estiveram no céu.

As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coisas que possam representar beleza e excelência.

Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em pobres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil anos, num abrigo de animais, em Belém.

Todos vamos comprar presentes para os amigos e parentes, grandes e pequenos, e gastaremos, nessa dedicação sublime, até o último centavo. Grandes e pequenos, parentes e amigos são todos de gosto bizarro e extremamente suscetíveis.

Também eles conhecem todas as lojas e seus preços — e, nestes dias, a arte de comprar se reveste de exigências particularmente difíceis. Não poderemos adquirir a primeira coisa que se ofereça à nossa vista: seria uma vulgaridade. Teremos de descobrir o imprevisto, o incognoscível, o transcendente.

Não devemos também oferecer nada de essencialmente necessário ou útil, pois a graça destes presentes parece consistir na sua desnecessidade e inutilidade.

Ninguém oferecerá, por exemplo, um quilo (ou mesmo um saco) de arroz ou feijão para a insidiosa fome que se alastra por estes nossos campos de batalha; ninguém ousará comprar uma boa caixa de sabonetes desodorantes para o suor da testa com que — especialmente neste verão — teremos de conquistar o pão de cada dia.

Não: presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma. Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão.

Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço de uma cesta de rosas. Todos ficamos extremamente felizes!

São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes, os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos.

Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo.

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Exposição Phantasias – Lançamento de livros

A phantasias

O Museu de Arte Contemporânea, encerrando suas atividades expositivas do ano de 2014, apresenta no dia 04 de dezembro, às 20h, a mostra de artes visuais Phantasias que reúnem os artistas Antonio Brasileiro e Juraci Dórea. A exposição de Brasileiro consiste em vinte telas de diversos tamanhos e Juraci, telas e instalações. Junto às exposições, teremos os lançamentos dos livros de poesia inéditos Longes terras e O livro das phantasias de Brasileiro e Juraci respectivamente, pelas edições MAC, que publica frequentemente escritores feirenses.

O livro das phantasias é o sexto livro de Juraci quereúne 42 poemas de diferentes décadas (70, 80 e 90) todos intitulados phantasia; “os azulejos sabem/que o silêncio vem de longe/que todo silêncio vem de longe/­- como os crisântemos e as borboletas”. (Phantasia 13)

O livro Longes terras marca o retorno do poeta Antonio Brasileiro com o lançamento de livros inéditos, com 64 poemas que foram escritos entre 2005 e 2013; “Não nos iludamos: Tudo é só real./O sim, velhos panos./O erro, plural./Que a vida é passagem/(sabemos) somente./É tudo real/Criação da mente”. (Poema)

Antonio Brasileiro é pintor, poeta baiano, professor e membro da Academia Baiana de Letras. Possui mais de vinte títulos de poesia publicados. Nasceu em Matas do Orobó, interior da Bahia e reside em feira de Santana desde as obras publicadas, destacando-se entre eles: Caronte (romance, 1995), Antologia poética (1996), Da inutilidade da poesia (ensaio, 2002), Poemas reunidos (2005) e Dedal de areia (poesia). Recentemente lançou o livro Desta Varanda, pelo selo cartas baianas, além de ser o idealizador da revista baiana de literatura Hera.

Juraci Dórea, poeta e artista visual. Nasceu em Feira de Santana, Bahia. Publicou os livros Umquasepoema para Edwirges (poesia), 1976, Eurico Alves, poeta baiano(ensaio), 1979; Poema de Feira de Santana ( poesia), 2012

O evento terá a intervenção de atores e poetas declamando poesias, além da exibição de vídeos Arte produzidos pelos artistas George Lima e Caetano Dias.

 

Data: 04/12/2014

Horário: 20h

Local: Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira

Rua Geminiano Costa, 255, Centro – Feira de Santana -BA

Maiores informações: (75) 3223-7033 – macfeira@gmail.com