Mário Quitana

 

Canção de outono

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida…

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
De carícia a contrapelo…

Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma…
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!

Mário Quitana

(Poema publicado originalmente no livro Canções, Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 131)

Aberto do Cuca – 24 horas de arte

 

O Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) promove, sexta-feira (19), mais uma edição do Aberto, com 24 horas de música, dança, teatro, artes visuais, cultura popular, literatura e muito mais. As atividades do Aberto Virado, como é denominada a edição 2014, têm acesso livre do público e serão desenvolvidas em diversos pontos de Feira de Santana.

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O público poderá contemplar e participar de atividades no Cuca, campus da Universidade Estadual de Feira de Santana – Uefs (Biblioteca Julieta Carteado), Praça da Matriz, Biblioteca Monteiro Lobato, Casa do Sertão, Centro de Cultura Amélio Amorim (CCAAm), Museu de Arte Contemporânea (MAC) e Sesc.

A proposta é proporcionar espaço para pessoas que trabalham com arte e cultura nas mais diferentes linguagens, além de sinalizar para a comunidade que o Cuca/Uefs é totalmente aberto para todas as manifestações de cunho artístico e cultural.

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O Aberto é realizado desde 2007 pelo Cuca, órgão responsável pela execução da política cultural e artística da Uefs.  Nesse sentido, tem desempenhado papel importante na promoção e difusão da arte e da cultura no município, oferecendo à comunidade, gratuitamente, uma série de atividades nas mais diversas linguagens artísticas.

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Último texto de João Ubaldo Ribeiro

 

 

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O último texto de João Ubaldo, que deveria ser publicado no próximo domingo, fala sobre regras e teve sua publicação antecipara para hoje, 18/07/2014, dia da sua morte.

 

O correto uso do papel higiênico

 

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.

Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.

Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.

Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão exemplar. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma – chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote -, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.

Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.

 Fonte: Uol  

 

Noitada cultural

 

 

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Caminhando pela Memória de Feira de Santana                  

Programação de lançamento

Local: Casarão Fróes da Mota

Data: 04/04/14

Hora: 19h00

Mediadora: Cintia Portugal

I

Abertura:
Prévia do espetáculo: A cidade da rua Direita.

Grupo Conto em Cena,
direção de Geovane Mascarenhas,
Duração: 20 min. 

 II
Apresentação do livro Caminhando pela Cidade
Pela autora e bate-papo com leitores. 

O projeto de pesquisa Literatura de Jornal em Periódicos Brasileiros Pelo Prof. Doutor Adeítalo Manoel Pinho.”De mãos dadas com a memória“, Profª Mestre Leni David. “Falando de memórias” Uma prática com alunas da UATI /UEFS, Profª. Mestre Ana Angélica Vergne de Morais
Duração: 20 min. 

III
Entre Histórias e Memórias: Olney São Paulo e a peleja do cineasta do sertão.
Pela Profª. Mestre Maria David Santos.

A memória do Jornal Folha do Norte desde 1909.-
Pelos jornalistas Carlos Melo, Dalvaro Silva e Hugo Navarro.
Duração: 20 min.

                                               IV

O A, B, C de Feira de Santana – O livro Caminhando pela cidade.
Mesa com o escritor Cezar Ubaldo, Profª. Mestre Andréia Araújo e convidados
Duração: 20 min.

  V
Exposição do Clube da Fotografia: Exposição Fotográfica “Feira de Santana e o tempo levou!” de autoria dos Associados do Clube de Fotografia de Feira de Santana.

 VI
Encerramento: Apresentação musical Mano Gavazza.

Apoio: Fundação Senhor dos Passos. CUCA: Centro de Cultura e Arte., Mestrado em Estudos Literários (UEFS); Associados do Clube de Fotografia de Feira de Santana;

 

 

Versos de Luís Pimentel

 

Rio, Central do Brasil

 

Luís Pimentel

 Caras e culpas,

passos e abraços.

Sorrisos sem dentes

na boca da noite.

Vadios desencontros

e encontros vazios.

Na fria calçada,

calor de arrepio

e vida atrasada.

Leve suspiro.

Sapato apertado.

Um que é sem paradeiro.

Há quem conte mentiras,

enganando o silêncio.

Os que acordam cedo

vão bater continência

ante o busto do herói.

Têm as abstinências.

Vejo beijos e assaltos

sob o imenso relógio

Insigne

de um tempo tardio.

O sol sem remédio

morre lá na Gamboa.

Logo mais vem a lua

enxaguar a Baía,

sobre as luzes da Igreja.

As cotias do Campo.

A fumaça da Brahma.

O repique do Elite.

Os que bebem o sereno

não padecem de azia.

Entre o pão e o castigo,

entre o medo e a euforia,

ainda resta o elogio:

o Rio

é a Central

do Brasil.