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Shrek vivia na França e foi conhecido como Maurice Tillet. Nasceu em 1903, era um homem muito inteligente, que falava 14 idiomas, além de ser um exímio poeta e ator.Quando chegou à juventude, Maurice começou a desenvolver uma doença rara, chamada acromegalia. Esta doença causa um crescimento exagerado e incontrolável de partes do corpo. Em pouco tempo, todo o seu corpo se desfigurou de uma maneira muito peculiar. Na verdade, esta “transformação” afetou profundamente os aspectos psicológicos da personalidade de Tillet, que sofreu os horrores de começar a transformar-se de uma maneira grotesca, apesar de por dentro continuar a ser um gentleman super inteligente.
A sua forma gerava tanto preconceito que Tillet começou a ser expulso dos lugares que frequentava e onde antes era bem recebido. Não podendo lutar contra a doença, Maurice começou a adaptar-se a ela, adquirindo um rol de comportamentos mais adequados à sua grotesca aparência. Tillet tirou proveito das suas aptidões como ator. Foi para os EUA e tornou-se um profissional da Luta livre tendo adaptado o nome (e comportamento teatral) do “Assustador ogro do ringue”, cuja personagem (chamada “o anjo francês do ringue”) adquiriu fama imediata nas plateias.
Com o avançar da doença, Tillet acabou por se tornar um recluso, embora ainda tivesse alguns amigos. Um deles foi o empresário Patrick Kelly, que visitava Tillet para jogarem partidas de xadrez. No ano de 1954, aos 51 anos, Tillet morre de problemas cardíacos. Um de seus poucos amigos, Bobby Managain, um antigo campeão da luta livre, estava a seu lado no dia em que ele se foi. Antes que Tillet morresse, Bobby pediu-lhe se poderia fazer um lifecast (uma máscara mortuária, uma prática comum até o século XIX e que com o tempo saiu de moda, mantendo-se hoje apenas no campo dos efeitos especiais), Tillet concordou e assim, após a sua morte, Bobby fez três cópias da cabeça de Tillet em gesso.
Uma delas foi parar ao Museu Barbell de York. Outra das máscaras ficou no escritório de Patrick Kelly e a última foi oferecida por ele para o Museu Internacional da Luta Livre, em Iowa. Posteriormente, uma das máscaras foi duplicada e foi parar ao Museu Internacional da ciência cirúrgica em Chicago. Uma outra réplica da máscara mortuária de Maurice Tillet foi parar no Hall of Fame do York Barbell Building. A réplica de Tillet serviu para mostrar os primórdios das formas da luta livre moderna e do halterofilismo. Foi esta réplica que serviu de modelo para a construção de Shrek. O corpo de Shrek, bem como sua cabeça, foram criados tomando como referência as formas de Tillet.
(Fonte: imagens Históricas)
Observação: Colaboração gentilmente enviada por meu amigo Francisco Cezar Rosa
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Lado a Lado: Matrizes do Brasil contemporâneo
Alana de O.Freitas El Fahl[i]
A novela Lado a Lado escrita pelos novos autores, João Ximenes Braga e Claudia Lage, cumpriu com maestria sua função artística de entretimento e informação simultaneamente. Com enredo desenvolvido no início do século vinte, trouxe à discussão todas as questões pulsantes daquela época e que ainda ecoam com força cem anos depois.
Ancorada em sólida pesquisa histórica, o texto reviveu páginas marcantes de nossa História, percorrendo grandes fatos como a chegada da República, as reformas urbanas de Pereira Passos (o bota-abaixo), a Revolta da vacina e a Revolta da chibata e, sobretudo, mostrando como esses eventos repercutiam no cotidiano da sociedade da época.
Construída através de personagens extremamente simbólicos, trabalhando o binômio expresso no título, buscou sempre trazer à tona esses múltiplos lados que compõem o Brasil. Do lado da Rua do Ouvidor, a Baronesa da Boa Vista, que ironicamente recusava-se a enxergar as transformações pelas quais o país passava e sempre vociferava as máximas identitárias de nossa elite: “Sabe com quem está falando” e “Ponha-se no seu lugar”, Laura feminista-vanguardista lutava para ter vez e voz num mundo patriarcal, Bonifácio Vieira, protótipo dos nossos políticos corruptos que cobram suas vantagens em qualquer regime que vigore. Do lado da favela que começava a se formar, Berenice, ambiciosa a qualquer que fosse o preço, Isabel, lutando por sua felicidade e enfrentando todos os preconceitos, Caniço, o marginal ingênuo e manipulável. Observemos que tais personagens perverte a ideia de maniqueísmo, pois o bem e mal estão no humano e não nas classes sociais.
Sem abandonar os expedientes caros de todo bom folhetim, como os amores românticos, as cartas roubadas, a bastardia, a falsa beata, a solteirona encalhada, a redenção dos humilhados, as traições pérfidas, os segredos de família, os autores conseguiram ir muito além ao retratar um período histórico que é germe do nosso Brasil de hoje, nos fazendo pensar com bastante lucidez em temas como a intolerância religiosa (o casamento ecumênico foi emocionante), o papel decisivo da cultura africana, o sistema de cotas ( a criação da escola no morro foi brilhantemente defendida na novela, inclusive com a chegada dos alunos adultos ex-escravos), o lugar da imprensa na formação da opinião pública, a relevância do futebol, nossa tendência para a comédia no teatro entre outros aspectos.
Toda a novela é digna de elogios, os cenários, os figurinos, as cenas de rua com todos aquele burburinho de cidade moderna que surgia, a interpretação magistral dos atores (a Baronesa, insuportavelmente boa em seu papel de vilã e Zé Navalha, magnífico em seus conflitos de herói frágil), parece ter saído de uma mistura das páginas de Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio, cronistas por excelência desse Brasil revelado na trama das seis.
E por fim é claro, um clássico final feliz para o regozijo dos telespectadores, os maus punidos e os bons em uma celebração vivificante e solar, pois ao menos na ficção, temos justiça nesse país.
[i] Professora Adjunta de Literatura da Universidade Estadual de Feira de Santana, alana_freitas@yahoo.com.br
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Luís Pimentel
Letrista/poeta? Poeta/letrista? Aqui, a ordem das letras não altera os versos. E o grande compositor da MPB que ficou conhecido como Poetinha não rivaliza com o grande poeta que, juntamente com parceiros musicais do gabarito de Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra ou Toquinho criou momentos preciosos do nosso cancioneiro.
Também advogado, diplomata, cronista, crítico de cinema, dramaturgo, cidadão do mundo e amigo de seus amigos em todas as horas, Vinicius de Moraes, o grande brasileiro de quem este ano se festeja o centenário, botou a poesia no centro dos acontecimentos, mesmo tendo sido perseguido pela burocracia do Itamarati – por ser poeta – e depois pelos poetas mais conservadores – por escrever letras de música popular. Independente da data redonda, Vinicius será sempre lembrado por suas canções, que não param de merecer regravações, e também pelo relançamento de sua obra literária ou a remontagem de seu musical clássico, Orfeu do Carnaval.
Vinicius de Moraes ressuscitou a parceria, que andava fora de moda, a necessidade do músico sem muita intimidade com a palavra se juntar a um poeta em busca da complementação da obra de arte. Dos primeiros sucessos ao lado de Tom Jobim na década de 50, onde surgiram pérolas como Garota de Ipanema, Se todos fossem iguais a você, Chega de saudade e Eu sei que vou te amar, os “afro-sambas” com Baden, até o casamento com Toquinho, consolidado com Tarde em Itapoã, o poeta se firmou como uma das maiores vocações de letrista que já vimos.
Vinicius nasceu no dia 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro, mesma cidade onde morreu, em 1980. Consta que era um menino bonito. Tinha olhos verdes, “talvez ausentes, mas determinados como se vissem logo adiante um grande dever a cumprir e o tempo fosse pouco”, como declarou certa feita sua irmã mais velha, Laetitia. Deixou muitas viúvas e inúmeros discos gravados. Também se destacou na criação de trilhas sonoras, tendo deixado pelo menos cinco LPs com esses registros.
Trabalhador, criativo e profícuo, foi um gênio da raça.