Dia Internacional da Mulher

 

“Mas é preciso ter força
é preciso ter raça
é preciso ter gana, sempre,
quem traz no corpo a marca
Maria, Maria,
mistura a dor e a alegria”.

(Milton Nascimento)

“Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores”.

(Cora Coralina)

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Uefs comemora com debate o Dia Internacional da Mulher

Tendo em vista o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) promove no dia 7 (quarta-feira), o seminário “A Violência Contra a Mulher sob a Ótica da Saúde e da Justiça”.  O evento é organizado pelo Departamento de Saúde e pelo Coletivo de Mulheres, movimento social da Instituição. As atividades serão desenvolvidas no auditório do módulo 7,  a partir das 14 horas.

O objetivo é articular políticas públicas de combate à violência contra a mulher, entre elas o Observatório da Lei Maria da Penha, desenvolver ações de proteção e fortalecer a rede de atenção à mulher em Feira de Santana.

Segundo a professora Ana Rita da Costa, o movimento Coletivo de Mulheres quer aproveitar o Dia Internacional da Mulher para chamar a atenção da sociedade para o problema da violência contra a mulher, muitas vezes no ambiente familiar.

Está prevista a participação de representes de entidades que militam na área de gênero, movimentos sociais, agentes de promoção da justiça e da saúde, estudantes e comunidade universitária.

 Vívian Servo Leite – Ascom/Uefs

Dia Internacional da Mulher

 

  

Sempre que falo ou escrevo sobre o “dia internacional da mulher”, fico um pouco constrangida; primeiro porque sou contra dias especiais, pois essas datas sempre terminam deturpadas pelo apetite comercial. Segundo, porque as homenagens sempre transfiguram  a imagem da mulher.

 Acredito que os festejos  e homenagens são importantes, sobretudo para que se possa entender o que e o porquê de comemorar a data. Mulheres são seres humanos, pessoas capazes e versáteis. Às vezes são frágeis e medrosas; às vezes se auto-censuram; outras vezes são destemidas e corajosas.

 

Penso nisso porque fico indignada com a discriminação, até mesmo quando exaltam uma mulher que assume um posto importante, como se ela estivesse realizando uma façanha, como se não fosse capaz de chegar até ali, como se fosse um privilégio, um golpe de sorte e não um direito, uma conquista. Existem mulheres que sabem cozinhar; outras que detestam cozinha. Algumas que adoram decorar a casa, outras que não têm o menor jeito. Há mulheres motoristas de caminhão, pilotos de avião, taxistas, garis, pescadoras, faxineiras, professoras, cantoras, atrizes e políticas, no Brasil e em outros países do mundo. Mas também há mulheres que apanham de homens, que são discriminadas no trabalho; mulheres que vivem na rua, mulheres mal-remuneradas, mulheres exploradas, enfim, mulheres maltratadas.

Falam das conquistas de igualdade de direitos entre homens e mulheres, mas isso também pode ser perigoso porque é uma forma de preconceito. O mundo evoluiu. A mulher conquistou seu espaço, apesar da maternidade e das tarefas domésticas  que executa no seu cotidiano; mas ela aprendeu a batalhar, a buscar o que lhe interessa. Essa “igualdade” tão comentada e tida como reconhecida, muitas vezes é discutida e tripudiada, porque na prática as discriminações persistem e são gritantes.

Acredito que esse dia internacional da mulher não deva ser somente um dia de celebração, um dia de festa, mas sobretudo, um dia de reflexão sobre o  papel da mulher  na sociedade atual. Que a comemoração não se restrinja ao almoço ou jantar no restaurante, ao frasco de perfume importado, ao buquê de flores (bem-vindos hoje e em qualquer dia do ano), ao cartão de felicitações ou àquelas exaltações caricaturais tão bem utilizadas pela mídia.

Seria melhor que nos vissem simplesmente Mulheres, assim mesmo, com letra maiúscula. Mulheres conscientes e que se orgulham da sua condição, em casa, no trabalho, na rua, na escola, em todo lugar; mães, filhas, esposas, noivas, mulheres trabalhadoras urbanas ou rurais; motoristas, médicas, cabeleireiras, advogadas, maquinistas, esteticistas, cozinheiras, jornalistas, bancárias, domésticas, donas de casa, floristas, dentistas, manicures, comerciárias, artesãs, enfermeiras, costureiras, empresárias, manequins, mães de santo, baianas do acarajé, bailarinas, faxineiras, santas, loucas, enfim, MULHERES!

 

E nunca é demais lembrar Adélia Prado, uma poeta que admiro – e que não precisa ser chamada de poetisa para que acreditem nisso – porque ela soube resumir em poucas palavras o que a maioria das mulheres sente e pensa. Em seu poema, Com licença poética, ela contesta Drummond replicando o “anjo torto” dos versos do Poema de sete faces, que decretou: “Vai, Carlos! ser gauche na vida”.

O anjo de Adélia é esbelto, toca trombeta e anuncia: “Vai carregar bandeira”. Mas a poeta sentencia: “Cargo muito pesado pra mulher”. Com jeito suave, mas corajoso, os versos de Adélia revelam, além da fragilidade da alma feminina, a força e a determinação da mulher que sabe o que quer:

 “Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou. »

                              (Adélia Prado)

 Observação: As flores são para todas aquelas que pensam mais ou menos assim.