Esquizópolis apresenta obras premiadas nos salões de artes visuais da Bahia em 2012

 

Exposição será aberta em 20 de junho e integra a programação cultural do período da Copa das Confederações

Uma mostra da atual produção baiana em Artes Visuais, apontando sua diversidade e ressaltando sua interlocução com o universo artístico: assim é a exposição Esquizópolis, que reúne as 17 obras premiadas nos Salões de Artes Visuais da Bahia 2012, que foram realizados em Irecê, Jequié e Juazeiro, em diálogo com peças do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Como resultado, o conjunto aborda o crescimento desordenado de Salvador e da Bahia, a partir da convivência de formas de desenho urbano e arquitetônico das cidades. Numa correalização entre a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e o MAM-BA, unidade do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), vinculados da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), Esquizópolis será aberta no dia 20 de junho, às 19 horas, e seguirá com visitação gratuita até 1º de setembro. A ação também integra as atividades do Cultura em Campo, programação da SecultBA durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013.

Atualmente, o MAM-BA está trabalhando de acordo com uma proposta de externalização de projetos que promove eventos ligados ao museu em espaços externos a ele. Neste sentido, parte da exposição Esquizópolis acontecerá no espaço do Museu Náutico da Bahia, no Farol da Barra. Obras de três dos artistas que integrarão a mostra – Vauluizo Bezerra, Gaio Matos e Danillo Barata – estarão lá alocadas, em um diálogo direto entre acervo do Museu Náutico e proposta curatorial de exposição. Além destes, os demais trabalhos que integram a mostra estarão expostos na Galeria 3 e na Capela do Museu de Arte Moderna da Bahia.

Esquizópolis resulta de uma ampliação do alcance dos Salões de Artes Visuais da Bahia, que, em 2012, comemoraram 20 anos dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia, consolidados como um dos principais objetos de incentivo à criação e difusão de produção artística e à dinamização dos espaços expositivos do interior do estado. Com o novo nome, o projeto assumiu sua representação múltipla e contemporânea, que extrapola referências e características regionais. Na edição do ano passado, foram 75 obras selecionadas através de edital público, de 68 diferentes artistas, dentre 218 propostas inscritas. Além da oportunidade de terem seus trabalhos expostos num projeto reconhecido e que corrobora a qualidade artística das obras, os artistas participantes também concorreram a prêmios: em cada Salão, três obras receberam R$ 7 mil cada, a partir da indicação de Comissões de Premiação. Ainda foram concedidos prêmios simbólicos: as Menções Honrosas, também pela Comissão, e o Prêmio do Público, pela escolha dos visitantes.

Assim, fortalecendo a divulgação e a difusão do trabalho dos participantes, bem como aumentando o alcance do projeto e confirmando a sua inserção num cenário mais amplo das Artes Visuais, todas estas obras premiadas chegam ao MAM-BA em Esquizópolis. A exposição, aliás, outra vez se propôs à expansão: a ocupação não se limita aos espaços físicos e passa a ter uma conexão também conceitual com este importante espaço cultural baiano, evidenciando o modo como estes artistas de diversas origens, técnicas e trajetórias se localizam nos espectros das Artes Visuais da Bahia.

Na ocasião da abertura da mostra, também será lançado o Catálogo dos Salões de Artes Visuais da Bahia 2011/2012, publicação bianual de registro e divulgação. As duas edições já lançadas do Catálogo (2007/2008 e 2009/2010), além de suas versões impressas, estão disponíveis para download na nossa página de publicações.

OBRAS E ARTISTAS PREMIADOS NOS SALÕES DE ARTES VISUAIS DA BAHIA 2012 Veja galeria de fotos clicando aqui

Edição de Irecê = Compartilha e Curte, de Aécio Oliveira (Obra Premiada) Videoarte do artista plástico Aécio Oliveira, nascido e residente em Irecê. A obra faz alusão às redes sociais de uma forma bem humorada, através de um vídeo de um palhaço bocejando. Tem como objetivo fazer com que o espectador se questione sobre as relações humanas, mostrando uma forma de ação e reação semelhante, através do efeito visual que causa a imagem. O trabalho é uma concepção da linha de pesquisa sobre a performance do clown (palhaço) e sua relação com o mundo.

= Que Não Foi de Ninguém, de Juliana Moraes (Obra Premiada) De Salvador, a artista plástica Juliana Moraes, nesta obra, parte do pressuposto de que o ser humano só se reconhece como tal em contato com o outro, “só existe a partir do outro”, a partir do contraste. Pela distinção, o ser humano expressa suas diferenças e se torna particular. O trabalho consiste em quatro imagens impressas em foto porcelana, objetos originalmente utilizados em lápides para homenagens póstumas. Ao afirmar a individualidade contra o individualismo totalizante e em série, afirma também o direito à plena e singular existência.

= Projeções sobre o inacabado, de Rosa Bunchaft (Obra Premiada) Da artista visual Rosa Bunchaft, italiana radicada em Salvador, esta performance urbana se realiza como percurso na cidade e tem como proposta experimentar o corpo não apenas como objeto, mas como suporte de projeção de imagens, articulando performance e imagem enquanto campo de experimentação e encontro na cidade. Uma noiva na cidade… Um andaime como altar… Um véu que é tela de construção civil e torna-se tela de projeções do desabamento acidental de uma das tantas edificações em ruínas que está sendo destruída para construção de novos empreendimentos imobiliários… Um paralelo entre a ideia de vazio e ruína nos processos de construção, destruição e abandono em dois territórios distintos: o amor e a cidade.

= Olimar, grande mãe flor nuclear refletindo seu papel social socorrida por um gardenal…, de Devarnier Hembadoom Apoema (Menção Honrosa) Mestre em Artes Visuais, músico, poeta e livre pensador, nascido em Salvador, residente em Simões Filho, Devarnier baseia esta obra no conceito de Arte Sincrética, desenvolvido pelo próprio autor, e traz a representação do personagem real, Olimar, que, ao deparar-se com sua vultuosa responsabilidade social, passa a automedicar-se com gardenal. Assim, pretende contribuir para a provocação, reflexão e crítica do público apreciador das artes visuais, bem como de toda sociedade pós-lexotan.

= Coma meu coração sem pena, enquanto é tempo – I, de João Oliveira (Menção Honrosa) Artista visual soteropolitano, João Oliveira apresenta gravura em que trata do amor não-recíproco, demente e imaginário – que independe do objeto de amor – e que surge naquele que o sente ou a ele é propenso, comprometido pela sua irrealidade. O amante tenta alcançar no amado algo impossível, simbiótico, numa tentativa desesperada de atingi-lo em sua imaginada essência. Mendigando afeto como um cão sem dono, o ser apaixonado personifica-se no que acredita ser o que o outro espera, nesse caso o cão fiel, incondicional, ladrando seu amor em urgência, e revela-se capaz de renunciar voluntariamente ao seu amor-próprio.

= O cambista, de Jailson Paiva (Prêmio do Público) O artista plástico pernambucano e residente em Irecê Jailson Paiva apresenta escultura em tamanho natural em cimento e ferro, que representa uma pessoa ainda viva que foi excluída do seu ambiente de trabalho por conta do advento das máquinas eletrônicas que substituíram os talões manuscritos dos cambistas.

Edição de Jequié

= Autopoiese, de Ricardo Alvarenga (Obra Premiada) Mineiro residente em Salvador, o performer e artista multimídia Ricardo Alvarenga apresenta instalação com sete fotografias de 40 cm x 60 cm, referenciada no conceito de autopoiese – autoprodução de si, como condição natural de ser vivo, operando em natureza cíclica. A cabeça-tufo se transfigura em tufos-cabeça, e ambos se produzem mutuamente. Os tufos presentes no trabalho são emaranhados de cabelos do performer, recolhidos durante os últimos quatro anos, na ritualização cotidiana dos banhos. A performance consiste na manipulação dos cabelos que ora são esculpidos como uma bolsa que acondiciona os tufos, ora são esculpidos como uma máscara que realiza um ser sem face. A ação de tirar e recolocar os tufos de forma cíclica é realizada ininterruptamente enquanto há público na galeria. Um vídeo da ação é exposto nos dias que se seguem à abertura. Os créditos das fotografias são de Peruzzo e do vídeo, de Paula Carneiro.

= Ausentes, de Rosane Andrade (Obra Premiada) Artista visual nascida em Santo Antonio de Jesus e residente em Salvador mostra uma obra de intervenção urbana que propõe observar o espaço da cidade e posteriormente criar imagens que dialoguem com a rotina dos cidadãos. Nas imagens, são representadas cenas lúdicas de ações cotidianas dos pedestres, como, por exemplo, pegar um ônibus. Deste processo é feito um desenho que combina essas características com a do personagem adormecido reproduzido na obra, que se trata de um corpo com uma cabeça de travesseiro. O desenho situa-se sobre um fundo de linhas que mostra como a artista entende o espaço social-urbano: um fluxo que aprisiona as situações e, portanto, adormece o sujeito. Assim, é traçado um paralelo entre o corpo ausente e o estar presente, sendo este último intuído como uma percepção adormecida, um estado de inércia. Esse estado não é constante, constituindo-se tão somente numa espera por um fenômeno que nos tire dessa realidade sonhada.

= Prometeu e São João brincando de inquisição em paisagem cruzalmense, de Zé de Rocha (Obra Premiada) Zé de Rocha, artista visual e músico, apresenta objeto díptico com 160 cm x 210 cm em que utiliza, como instrumento para riscar/desenhar, o artefato conhecido como “espada de fogo” (espécie de busca-pé construído com bambu, argila e pólvora), proveniente da queima de espadas, manifestação cultural centenária de Cruz das Almas, cidade onde foi criado. Este trabalho tem como princípio criador a polissemia da palavra “risco”, que abarca as acepções de traço feito numa superfície e de possibilidade de passar por perigo. Além disso, evoca a relação de fascinação e medo que prevalece como matriz de interação social. Costumes e festividades estabelecidas em torno do embate com o perigo, que resistem na contramão de uma incitada homogeneização mundial da cultura.

= Cidade Babilônia, de Alex Oliveira (Menção Honrosa) O fotógrafo Alex Oliveira traz ensaio que tem um viés social e político. Traduz um espaço suspenso no tempo, um retorno ao imaginário construído durante o período da infância e adolescência em que morou em Jequié, sua cidade natal. Uma das questões mais importantes do ensaio é a possibilidade que as imagens têm de comunicar, incitar o diálogo e a difusão das questões que abarcam a relação entre o progresso e a decadência das grandes construções arquitetônicas submetidas ao choque de ideologias e interesses econômicos. A obra denuncia, torna evidente, um espaço que foi esquecido, naturalizado como invisível, como tantas outras questões que na contemporaneidade tendem a ser esquecidas pelo fluxo diário do cotidiano.

= Escolha sua garota favorita, de Mike Sam Chagas (Menção Honrosa) Mineiro residente em Salvador, o artista plástico Mike Sam Chagas reúne elementos díspares, como frases, máquinas de fliperama, logotipos, retratos, cenas adolescentes de Salvador, nesta pintura em políptico de 140 cm x 280 cm. As obras funcionam como colagens que, tendo como suporte a tradição da pintura, refletem o desejo dos pintores de desvelar a própria natureza de seu ofício. Ao substituir as modelos anônimas do jogo por mulheres consagradas como musas pela História da Arte, o trabalho brinca, ao inseri-las num contexto de jogo erótico, com a noção de aura que envolve determinados objetos artísticos (e também artistas), misturando sedução e reverência na relação lúdica entre modelo, artista e espectador.

= Contempladores da Ganância Insaciável, de Augus (Prêmio do Público) O conjunto de fotografias de Augus, fotógrafo, artista visual e videomaker de Jequié, tem 200 cm x 90 cm e representa uma visão sequencial de um momento do cotidiano de uma parcela de moradores da cidade. A obra em preto e branco remete ao início do capitalismo e demonstra que, na essência, nada mudou na mente dos empresários opressores e que a grande massa humana continua sendo comandada e imprensada na passarela de ferro dos controladores do sistema. Mostra uma ponte estreita que leva à porta larga da revolta e do desânimo que leva o operário a descer o penhasco pedregoso, e, na margem do rio fétido, explorado e dragado, contemplar no seu horário de repasto a ganância insaciável.

Edição de Juazeiro

= Frente e Verso, de Alex Moreira (Obra Premiada) Nascido em Presidente Dutra e residente em Juazeiro, Alex Moreira apresenta obra em técnica mista, com 90 cm x 60 cm x 4 cm, que trazem todos os documentos originais do artista: RG, CPF, Certidão de Nascimento, Reservista, Título de Eleitor, Comprovante de Quitação Eleitoral, Carteira de Trabalho, Diploma de Graduação e todos os cartões de conta bancária e crédito. Uma demonstração de entrega e doação para a arte, deixando-o vulnerável a qualquer acontecimento que necessite de um desses documentos, sem acesso às contas bancárias, sem poder viajar, ser atendido em hospitais, tirar passaporte, realizar pagamentos, ser vistoriado pela polícia ou forças armadas, ficando inclusive exposto a estelionatários. Não poderia, também, comprovar ser um cidadão brasileiro, abrindo uma reflexão sobre o uso exagerado dos documentos que fazem como que sem esses números não existíssemos.

= Passeio Socrático, de George Lima (Obra Premiada) Artista visual de Feira de Santana, George Lima apresenta obra em que busca uma reflexão acerca do sentimento de “ser feliz”, nos tempos “pós-modernos”, em meio a aspectos regidos pela “sociedade do espetáculo”, como publicidade, entretenimento, consumo etc. O registro foi realizado no interior de um shopping center. Composta por uma série de cinco fotografias digitais de 80 cm x 80 cm, plotadas em vinil transparente e fixadas sobre peças de porcelanato polido de mesmas dimensões, na cor branca (uma peça de piso para cada imagem), a obra tem como medida total 80 cm x 400 cm. As cinco imagens são expostas, juntas e alinhadas, sobre o piso, no interior do espaço expositivo, de forma que as pessoas possam circular livremente pelo seu entorno. O propósito é instigar o público a interagir com a obra.

= Maracutaia S/A, de Ramon Rá (Obra Premiada e Prêmio do Público) Artista visual soteropolitano, Ramon Rá apresenta instalação que resulta de observações extraídas dos objetos e das relações do cotidiano. O Bombril, elemento utilizado no serviço doméstico de limpeza, é o suporte escolhido pelas suas características, para modelar cerca de 1.500 ratos de tamanhos que variam de 15 a 40 centímetros. Para o artista, foi fundamental o encontro com esse material de suporte, por ele agregar num mesmo elemento a maleabilidade, a textura e a coloração necessárias para concretizar sua poética visual, além do valor semiótico que assume, evocando elementos como ética, consumo e transitoriedade. A obra propõe um mergulho nas relações homem/objeto, humanizando os objetos e coisificando o humano.

= Sistema de Controle, do Coletivo Neri Neves (Menção Honrosa) George Neri, fotógrafo, artista visual, artista plástico, videomaker, e Núbia Neves, videomaker e artista plástica, ambos residentes em Vitória da Conquista, formam o Coletivo Neri Neves. A instalação premiada dispõe sobre a parede uma impressão em papel do símbolo de um código de barras qualquer. Defronte da imagem do código de barras, um sensor sonoro e uma luz infravermelha detectam o movimento e acionam o som característico emitido quando um leitor de códigos é acionado. Esta proposta sugere uma reflexão múltipla das variáveis que se apresentam na relação consumo, mercado e mercadoria, colocando o público em posição de objeto consumido, ampliando também o relevo estético de uma situação corriqueira que representa o pilar da sociedade capitalista.

= Kab ide Tuti – SEXta SEX – You tube or not You tube, de Tuti Minervino (Menção Honrosa) Tuti Minervino, artista visual soteropolitano, apresenta videoinstalação que reúne três vídeos gravados em uma tarde, durante a residência artística na FAAP em São Paulo, em 2012. Dois dos vídeos partiram da body-art do artista. As tatuagens (Cabide e Sex-Sáb-Dom) foram o motivo para fazer a videoperformance. No Cabide, ele veste e sustenta o personagem, uma espécie de marca e assinatura no seu corpo. O terceiro vídeo (You tube or not You tube) trata da questão de “identidade”, do corpo deslocado. Ali, o artista representa um nordestino caricaturado questionando-se sobre qual o fim que daria à sua obra: postar ou não no Youtube (essa é a questão). Quer dizer da cara e coragem de um cidadão de outro lugar e realidade em terra estranha, onde ainda existe um preconceito com o povo do Nordeste do país. E esse é o destino que ele sonha, a terra prometida, mudar de vida etc.

ESQUIZÓPOLIS Onde: Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) e Museu Náutico da Bahia – Farol da Barra Abertura: 20 de junho, 19 horas, no MAM-BA Visitação no MAM-BA: 21 de junho a 1º de setembro, terça a sexta, 13 às 19 horas; sábado e domingo, 14 às 19 horas Visitação no Museu Náutico: 21 de junho a 1º de setembro, terça a domingo, 8h30 às 19 horas; durante o mês de julho, a visitação é todos os dias da semanas. Quanto: Gratuito Realização: FUNCEB/ MAM-BA/ IPAC/ SecultBA

 

 

Bahia – A lavagem do Bonfim

Todos os anos, na segunda quinta-feira de janeiro após o “dia de reis” (6 de janeiro), acontece em Salvador a Festa do Senhor do Bonfim da Bahia. Essa festa tradicional e de grande beleza, que é acompanhada por milhares de pessoas de todas as parte do mundo, consiste num enorme cortejo que sai da igreja da Conceição da Praia em direção à igreja do Bonfim, no alto da Colina Sagrada. Centenas de baianas, personagens tradicionais dos festejos, abrem o desfile e levam nas mãos vasos com flores e água de cheiro, usadas para lavar o adro da igreja e purificar os fiéis, num ritual de fé e esperança. Fogos de artifício anunciam o início do cortejo aberto pelas baianas e acompanhado pelo povo, num percurso de 8 km e a maioria das pessoas veste-se de branco, como manda a tradição.

Lavagem do Bonfim

A festa do Senhor do Bonfim, com a lavagem do adro da Igreja é considerada a mais importante das comemorações populares de Salvador. Os festejos religiosos (novenas e missas) têm início no dia seguinte à lavagem e se encerram no domingo.

Ao chegar ao Bonfim as baianas lavam as escadarias e o adro da Igreja  com água perfumada, e despejam essa mesma água sobre as cabeças de pessoas que buscam neste banho a purificação do corpo e da alma.  Após a lavagem, a festa prossegue com rodas de capoeira e samba, enquanto nas casas, os visitantes se deliciam com comidas populares, como o caruru, o cozido e a feijoada.

Origem da festa

Segundo o historiador Cid Teixeira, havia no Rio Vermelho uma capela consagrada à devoção de São Gonçalo, mas a mesma degradou-se e a festa de São Gonçalo foi transferida para o bairro do Bonfim. No passado, os devotos seguiam por mar, em saveiros e pequenos vapores da Companhia Baiana de Navegação. Desembarcavam no Porto da Lenha e subiam a ladeira do mesmo nome. Em razão da distância e por não haver estradas em boas condições, os romeiros chegavam ao Bonfim três dias antes da festa e daí o costume de lavar a igreja na quinta-feira, para prepará-la para a festa do domingo. Os que seguiam a pé também levavam água de toda a cidade, em potes, moringas ou latas, sobre as cabeças, dançando durante todo o trajeto.

A princípio essa lavagem era feita pelos moradores das vizinhanças e depois foi se tornando um ato cada vez mais difundido. Documentos e fotos antigas atestam a presença de aguadeiros, bondes e animais enfeitados com flores e bandeirolas, que deslocavam-se rumo ao Bonfim, além de baianas vestidas com as suas mais belas indumentárias, balangandãs e patuás.

Ao contrário do que acontece hoje, quando a água é carregada em potes, no século XIX e início do século XX, a água utilizada para a lavagem da igreja era retirada de uma fonte existente na Baixa do Bonfim e na noite de quarta-feira, romeiros de toda parte do Estado e de outras regiões do Brasil, além de apanhar a água, acendiam fogueiras, cantavam e dançavam ao som de cavaquinhos, pandeiros e violas. No dia seguinte a igreja era lavada e perfumada com água de colônia e o chão do templo era enxugado com panos brancos rendados.

No lado profano da festa, havia a apresentação de filarmônicas, de grupos com atabaques, capoeira e samba. No chamado sábado do Bonfim, começavam a chegar, à noite, numerosos ternos e ranchos que cantavam e dançavam até a manhã de domingo e permaneciam à espera da tradicional Segunda-Feira Gorda da Ribeira.

A festa, desde que se tem notícia, é marcada pelo sincretismo religioso. Ao lado dos devotos católicos, membros do candomblé prestam homenagem ao Senhor do Bonfim – Cristo, que no sincretismo corresponde a Oxalá. A Lavagem do Bonfim ainda guarda características do passado.

A Igreja do Bonfim

A Igreja Basílica do Senhor Bom Jesus do Bonfim, ou Igreja do Bonfim como é mais conhecida, um dos principais cartões-postais de Salvador, é um dos símbolos da religiosidade baiana. A construção do santuário teve início em 1740 com a vinda para a Bahia do Capitão de Mar e Guerra, Theodósio de Faria.

Segundo a Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim, o Capitão de Mar e Guerra tinha grande devoção ao Senhor do Bonfim que se venera na cidade de Setúbal, em Portugal, e trouxe de Lisboa uma imagem semelhante esculpida em pinho de riga, medindo 1,06m de altura.

Em 1745, a imagem foi guardada na Igreja da Penha, em Itapagipe, onde permaneceu até a construção do novo templo. Nesse mesmo ano foi fundada uma irmandade que foi denominada “Devoção do Senhor do Bonfim”.
Situado na única colina de Itapagipe, o templo foi construído entre os anos de 1746 a 1772. A imagem foi transferida para o novo templo em 1754, em uma procissão que contou com a presença macissa da população baiana da época. A imagem de Nossa Senhora da Guia, também trazida de Portugal por Theodósio de Faria e também foi colocada na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Conta-se que o Capitão trouxe a imagem como agradecimento por haver sobrevivido a uma tempestade em alto-mar. Prometeu então construir uma igreja no ponto mais alto que avistasse, de onde pudesse ver a entrada da Baía de Todos os Santos.

 Festa e proibições

Mas nem sempre a festa se desenrolou em paz e harmonia. Desde o século XIX houve proibições da lavagem da igreja, com a polícia apreendendo vassouras, potes, violões, atabaques e cavaquinhos. Em 1889, ano da Proclamação da República, o Arcebispo da Bahia, Dom Luís Antônio dos Santos, baixou portaria proibindo a lavagem do interior da igreja, contando com a ajuda da Guarda Cívica. Em razão da proibição, houve espancamentos, brigas e feridos e os motivos alegados pelo então Arcebispo, é que a festa era freqüentada por gente embriagada, da pior espécie. Durante dez anos a lavagem da igreja do Bonfim ficou proibida e nos dias que antecediam os festejos, o local era cercado pela polícia, com o objetivo de impedir qualquer tipo de manifestação. Dez anos depois, em 1899, a lavagem voltou a ser realizada, graças à persistência dos moradores do local, fiéis e comunidades afro-baianas vinculadas ao candombé.

Aos olhos da Igreja, porém, a lavagem era considerada como uma profanação do templo e um atentado aos dogmas cristãos. Mas o povo continuava a participar dos festejos, apesar do temor à repressão policial.


Em 1940 com a chegada dos “Redentoristas” à Salvador, o povo sentiu-se encorajado a realizar a lavagem do templo. Palanques foram armados para a apresentação de ranchos, ternos e orquestras. A presença das babalorixás, como símbolo do sincretismo com Oxalá, o pai de todos os orixás, levou o clero, mais uma vez, a proibir a lavagem, com intervenção da polícia. No entanto, para surpresa de todos, nesse ano de 1940, os comerciantes do local se uniram ao povo fechando as portas dos seus comércios e liberando os empregados, que se juntaram aos fiéis em protesto pela proibição. O impasse foi resolvido pelo então interventor Juracy Magalhães que, sensibilizado, conseguiu junto ao clero a abertura da basílica.

Hoje, vários afoxés e grupos musicais, entre eles um dos mais antigos, os Filhos de Gandhi participam dos festejos do Bonfim. A comissão de frente é formada por mais de quinhentas baianas vestidas à rigor. Turistas de todas as partes do mundo, fiéis e o povo em geral, acompanham o cortejo a pé, em carroças, bicicletas ou caminhões enfeitados.

A dois dias da lavagem do Bonfim, segundo os jornais baianos, o clima de festa já havia tomado conta da Colina Sagrada. A manhã da terça-feira começou movimentada com turistas lotando a Basílica em busca de bênçãos e na quinta-feira o cortejo desceu pelas principais ruas da cidade baixa rumo ao Bonfim, inundando de beleza os olhos dos que apreciavam o desfile.

A Igreja Católica, em ato histórico de confraternização religiosa baniu sua intolerância para com os rituais de origem africana incorporados à Lavagem do Bonfim. Foram desfeitos os equívocos de atitudes do passado emanadas de autoridades religiosas e até do poder oficial em várias escalas. A aceitação clara da presença heterogênea de crenças e seitas religiosas no Bonfim desmonta a discriminação,  participação do candomblé na lavagem, e outras expressões de raiz africana marcantes, em cidade de alto contingente negro, ganha significado de marco histórico – vitória do ardor místico sobre a discriminação. E para esse gesto muito contribuiu a vontade manifestada no ano passado pelo padre Menezes em tornar-se arauto de uma fraternidade religiosa raríssima neste mundo de radicalismos extremados, segundo o jornal A Tarde.

Para nós, independente das crenças e da fé que motiva o povo a participar do cortejo, da lavagem e da festa do Bonfim, tanto do ponto de vista religioso quanto do profano, o mais bonito é a preservação da tradição, é a alegria traduzida nos olhos das velhas baianas, é o colorido das flores e fitas esvoaçando ao vento.Todo esse conjunto de símbolos faz da Bahia uma terra singular.

 

Caixa Cultural abre inscrições para Ciclo Mandacaru de Oficinas de Caligrafia

A Caixa Cultural apresenta mais um Ciclo de Oficinas de Caligrafia produzidos pela Mandacaru Design. Serão quatro oficinas por cidade, com capacidade para 20 pessoas cada. O objetivo do projeto é atender 320 pessoas, dentre profissionais e amadores ligados às artes gráficas e manuais, como artistas plásticos, designers, publicitários, diretores de arte, criativos e interessados em geral. As atividades são gratuitas e buscam exercitar a liberdade criativa. O Ciclo de Oficinas acontece  na CAIXA Cultural Salvador de 19 a 23 de setembro. As oficinas também serão realizadas em Brasília (DF) e Fortaleza (CE). A programação para as próximas cidades pode ser consultada no site do evento, www.mandacarudesign.com.br/caligrafia.

A proposta do projeto é compartilhar o conhecimento de grandes nomes da caligrafia nacional com pessoas que tenham interesse pelo tema, seja iniciante ou experiente, e ainda fomentar nos jovens talentos o prazer de trabalhar sua escrita. Os calígrafos convidados para participar são: Andréa Branco (SP), Cláudio Gil (RJ), Matheus Barbosa (PE) e Tony de Marco (SP). Para se inscrever basta acessar o site do evento e fazer o cadastro. As vagas serão determinadas por sorteio, sempre uma semana antes de cada início de programação. Os sorteados serão notificados pelo e-mail cadastrado e, caso haja desistência, a vaga será liberada para eventual lista de espera.

 

Programação:

Cláudio Gil: 19 de setembro (quarta-feira)

Kalligraphos, Oficina de Caligrafia Experimental – Com um material audiovisual selecionado e o desenho de caligrafias em aula, o instrutor traçará diversos alfabetos que vão desde a Roma antiga até os dias atuais. O objetivo é proporcionar aos alunos uma visão da evolução do alfabeto latino através do tempo e das diferentes culturas em que ele se estabeleceu. Os alunos desenharão, estudarão um alfabeto fundamental, terão noções básicas para a composição de textos e também construirão seu instrumento de trabalho. Não há pré-requisito.

Matheus Barbosa: 20 de setembro (quinta-feira)

Livreto Caligráfico – Será desenvolvida a capacidade de análise, criação e modificação de diferentes escritas: gótica, árabe, grego e devanagari. Para isto, serão utilizadas ferramentas caligráficas recicláveis (penas feitas de lata de refrigerante e cartão magnético) para cópia e modificação destas escrituras. O módulo conta com um grande aporte de imagens para ampliar o repertório do aluno bem como incentivo para a criação dos textos que serão a base para o desenvolvimento de livretos caligráficos. As atividades contemplarão análise de escritas, estrutura das escritas, construção de ferramenta, cópia da escrita, modificação da escrita, composições de textos e construção de livreto. Não há pré-requisitos.

Andréa Branco: 21 de setembro (sexta-feira)

Caligrafia para Designers – A oficina oferece uma introdução à caligrafia, tanto em seu contexto histórico quanto prático. Através de exercícios práticos e observação de alguns trabalhos nacionais e internacionais, o participante conhece as origens do nosso alfabeto e obtém uma introdução dos fundamentos da história da tipografia. É destinada a designers gráficos, artistas plásticos, ilustradores, publicitários, tatuadores e público em geral. O programa inclui um estudo breve da história da escrita e da caligrafia ocidental; a caligrafia e as formas do alfabeto ocidental romano com manejo da pena quadrada; surgimento das minúsculas; estudo prático da pena quadrada no alfabeto romano sem serifas; relações da caligrafia com a tipografia; instrumentos, suportes e tintas; demonstração da pena de bico no alfabeto cursivo inglês; grandes designers calígrafos e publicações.

Tony de Marco: 23 de setembro (domingo)

Safári Foto tipográfico – O grupo sai às ruas para “caçar” letras com celulares ou minicâmeras, para então, na sala de aula, desenhar e remixar o que foi registrado em novas criações, num exercício de observação e alteração criativa das imagens. Como pré-requisito, o participante deverá levar qualquer máquina fotográfica (pode ser celular com câmera), e é recomendado uso de laptop com software de configuração de imagens e cabo para descarregar as fotos.

Ficha Técnica:

Bebel Abreu – Curadora

Andréa Branco – Calígrafa profissional. www.flickr.com/andreabranco

Cláudio Gil – Artista plástico, designer, calígrafo, professor.

www.flickr.com/photos/49471096@N00/

Matheus Barbosa – Designer gráfico.  www.matheusbarbosa.com.br

Tony de Marco – Ilustrador, designer tipográfico digital e pioneiro na street-art tecnológica, criador de mais de 50 alfabetos premiados mundialmente.

www.flickr.com/photos/tonydemarco

Para mais informações acesse:

site www.mandacarudesign.com.br/caligrafia

twitter @MandacaruDesign #CicloCaligrafia

facebook: http://www.facebook.com/MandacaruDesign

CAIXA Cultural Salvador – 19 a 23 de setembro

Local: CAIXA Cultural Salvador – Rua Carlos Gomes, 57, Centro – Salvador/BA.

Informações: (71) 3421-4200

Horário: de 10h às 18h, com intervalo para almoço

Entrada: franca

Recomendação etária: 8 anos

Acesso para pessoas com necessidades especiais

CAIXA Cultural Brasília – 3 a 7 de outubro

Assessoria de Imprensa da CAIXA Cultural Salvador(BA)

(71) 3421-4200 / 8726 9600

www.caixa.gov.br/caixacultural

 

Centenário de Jorge Amado – Mostra mergulha na vida e na obra do escritor baiano

A partir de hoje, 09 de agosto às 19h, o público baiano poderá participar da abertura da exposição “Jorge, Amado e Universal”, em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). A mostra, aberta até o dia 14 de outubro, já passou pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e atraiu mais de 130 mil pessoas.

Salvatore Carrozzo

Tereza, Flor, Gabriela, Dora. São muitas e diversas as mulheres de Jorge Amado (1912- 2001). Assim como os homens: Nacib, Vadinho, Pedro Arcanjo… Eles habitam os romances e o imaginário de leitores no Brasil e no mundo. Todos saídos da cabeça inventiva do autor, que por sua vez também não era um só.

As diversas facetas de Jorge – o escritor, o marido, o pai, o político, o amigo, o viajante – são a tônica da exposição Jorge Amado e Universal, um dos destaques da programação do  centenário de Jorge, comemorado amanhã. A mostra tem abertura para convidados, hoje, e para o público, amanhã. Depois de estrear no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, chega ao Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão.

Quem é Jorge?

Para um nome forte da literatura, um time de peso. A direção geral é de William Nacked, que produziu as exposições sobre Clarice Lispector (1920–1977) e Gilberto Freyre (1900–1987) no Museu da Língua Portuguesa. A cenografia é de Daniela Thomas e Felipe Tassara; e a parte multimídia foi desenvolvida pela O2 Filmes, do cineasta Fernando Meirelles.

“Quando nós começamos a montar a exposição, eu disse: ‘ninguém conhece Jorge’. Me chamaram de louco. As pessoas conhecem algumas obras de Jorge Amado. Com a mostra, vamos apresentar quem é esse Jorge, essa Bahia, esse Brasil, esse mundo”, afirma o diretor, em referência ao contexto sócio-histórico.

Jorge Amado e Universal foi dividida em módulos. O primeiro é dedicado aos personagens, como Gabriela e Nacib (Gabriela, Cravo e Canela), Pedro Arcanjo (Tenda dos Milagres) e  Antonio Balduíno (Jubiabá). O segundo espaço apresenta a faceta política do autor, que foi eleito deputado federal por São Paulo no ano de 1945, pelo Partido Comunista Brasileiro.

Há ainda espaço para a malandragem e a sensualidade presentes nos livros, depoimentos de amigos, artistas e críticos, além de uma cronologia da vida do escritor. O visitante pode ver curiosidades, como fotos de Jorge Amado com sua mãe, Eulália Leal Amado; e escritos originais de Tieta do Agreste.

O custo da exposição, em São Paulo e na Bahia, foi de R$ 3 milhões, metade foi captado com patrocínio via Lei Rouanet. O plano é fazer com que a mostra fique circulando até 2014. No Brasil, já estão definidas duas cidades: Recife – local da próxima etapa – e Rio de Janeiro. Paris, na França, Frankfurt, na Alemanha, e Porto, em Portugal, estão em fase de negociação.

Múltiplos

A cineasta Cecília Amado, neta de Jorge, é só alegria para falar da exposição. “Está incrível. Deram um olhar contemporâneo, de modo a aproximar meu avô das novas gerações. É uma exposição sensorial bem completa, todos os detalhes, os sons. Tem até cheiro de cacau torrado”, observa.

Em pouco mais de dois meses, a mostra foi vista por 143 mil pessoas em São Paulo. E a amadomania ultrapassa o Brasil. Neste ano, aumentou o  número de pedidos de editoras estrangeiras interessadas em editar sua obra.

Para a exposição, a equipe do MAM preparou uma programação com debates, oficinas, contação de histórias e ações voltadas para o público infanto-juvenil. As atividades podem ser conferidas em www.bahiamam.org. “Quem for na exposição vai entrar com um Jorge na cabeça e sair com vinte”, afirma William. Bem que dizem: toda leitura é, na verdade, múltipla.

Fonte: MAM e Correio da Bahia

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