Esquizópolis apresenta obras premiadas nos salões de artes visuais da Bahia em 2012

 

Exposição será aberta em 20 de junho e integra a programação cultural do período da Copa das Confederações

Uma mostra da atual produção baiana em Artes Visuais, apontando sua diversidade e ressaltando sua interlocução com o universo artístico: assim é a exposição Esquizópolis, que reúne as 17 obras premiadas nos Salões de Artes Visuais da Bahia 2012, que foram realizados em Irecê, Jequié e Juazeiro, em diálogo com peças do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Como resultado, o conjunto aborda o crescimento desordenado de Salvador e da Bahia, a partir da convivência de formas de desenho urbano e arquitetônico das cidades. Numa correalização entre a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e o MAM-BA, unidade do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), vinculados da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), Esquizópolis será aberta no dia 20 de junho, às 19 horas, e seguirá com visitação gratuita até 1º de setembro. A ação também integra as atividades do Cultura em Campo, programação da SecultBA durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013.

Atualmente, o MAM-BA está trabalhando de acordo com uma proposta de externalização de projetos que promove eventos ligados ao museu em espaços externos a ele. Neste sentido, parte da exposição Esquizópolis acontecerá no espaço do Museu Náutico da Bahia, no Farol da Barra. Obras de três dos artistas que integrarão a mostra – Vauluizo Bezerra, Gaio Matos e Danillo Barata – estarão lá alocadas, em um diálogo direto entre acervo do Museu Náutico e proposta curatorial de exposição. Além destes, os demais trabalhos que integram a mostra estarão expostos na Galeria 3 e na Capela do Museu de Arte Moderna da Bahia.

Esquizópolis resulta de uma ampliação do alcance dos Salões de Artes Visuais da Bahia, que, em 2012, comemoraram 20 anos dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia, consolidados como um dos principais objetos de incentivo à criação e difusão de produção artística e à dinamização dos espaços expositivos do interior do estado. Com o novo nome, o projeto assumiu sua representação múltipla e contemporânea, que extrapola referências e características regionais. Na edição do ano passado, foram 75 obras selecionadas através de edital público, de 68 diferentes artistas, dentre 218 propostas inscritas. Além da oportunidade de terem seus trabalhos expostos num projeto reconhecido e que corrobora a qualidade artística das obras, os artistas participantes também concorreram a prêmios: em cada Salão, três obras receberam R$ 7 mil cada, a partir da indicação de Comissões de Premiação. Ainda foram concedidos prêmios simbólicos: as Menções Honrosas, também pela Comissão, e o Prêmio do Público, pela escolha dos visitantes.

Assim, fortalecendo a divulgação e a difusão do trabalho dos participantes, bem como aumentando o alcance do projeto e confirmando a sua inserção num cenário mais amplo das Artes Visuais, todas estas obras premiadas chegam ao MAM-BA em Esquizópolis. A exposição, aliás, outra vez se propôs à expansão: a ocupação não se limita aos espaços físicos e passa a ter uma conexão também conceitual com este importante espaço cultural baiano, evidenciando o modo como estes artistas de diversas origens, técnicas e trajetórias se localizam nos espectros das Artes Visuais da Bahia.

Na ocasião da abertura da mostra, também será lançado o Catálogo dos Salões de Artes Visuais da Bahia 2011/2012, publicação bianual de registro e divulgação. As duas edições já lançadas do Catálogo (2007/2008 e 2009/2010), além de suas versões impressas, estão disponíveis para download na nossa página de publicações.

OBRAS E ARTISTAS PREMIADOS NOS SALÕES DE ARTES VISUAIS DA BAHIA 2012 Veja galeria de fotos clicando aqui

Edição de Irecê = Compartilha e Curte, de Aécio Oliveira (Obra Premiada) Videoarte do artista plástico Aécio Oliveira, nascido e residente em Irecê. A obra faz alusão às redes sociais de uma forma bem humorada, através de um vídeo de um palhaço bocejando. Tem como objetivo fazer com que o espectador se questione sobre as relações humanas, mostrando uma forma de ação e reação semelhante, através do efeito visual que causa a imagem. O trabalho é uma concepção da linha de pesquisa sobre a performance do clown (palhaço) e sua relação com o mundo.

= Que Não Foi de Ninguém, de Juliana Moraes (Obra Premiada) De Salvador, a artista plástica Juliana Moraes, nesta obra, parte do pressuposto de que o ser humano só se reconhece como tal em contato com o outro, “só existe a partir do outro”, a partir do contraste. Pela distinção, o ser humano expressa suas diferenças e se torna particular. O trabalho consiste em quatro imagens impressas em foto porcelana, objetos originalmente utilizados em lápides para homenagens póstumas. Ao afirmar a individualidade contra o individualismo totalizante e em série, afirma também o direito à plena e singular existência.

= Projeções sobre o inacabado, de Rosa Bunchaft (Obra Premiada) Da artista visual Rosa Bunchaft, italiana radicada em Salvador, esta performance urbana se realiza como percurso na cidade e tem como proposta experimentar o corpo não apenas como objeto, mas como suporte de projeção de imagens, articulando performance e imagem enquanto campo de experimentação e encontro na cidade. Uma noiva na cidade… Um andaime como altar… Um véu que é tela de construção civil e torna-se tela de projeções do desabamento acidental de uma das tantas edificações em ruínas que está sendo destruída para construção de novos empreendimentos imobiliários… Um paralelo entre a ideia de vazio e ruína nos processos de construção, destruição e abandono em dois territórios distintos: o amor e a cidade.

= Olimar, grande mãe flor nuclear refletindo seu papel social socorrida por um gardenal…, de Devarnier Hembadoom Apoema (Menção Honrosa) Mestre em Artes Visuais, músico, poeta e livre pensador, nascido em Salvador, residente em Simões Filho, Devarnier baseia esta obra no conceito de Arte Sincrética, desenvolvido pelo próprio autor, e traz a representação do personagem real, Olimar, que, ao deparar-se com sua vultuosa responsabilidade social, passa a automedicar-se com gardenal. Assim, pretende contribuir para a provocação, reflexão e crítica do público apreciador das artes visuais, bem como de toda sociedade pós-lexotan.

= Coma meu coração sem pena, enquanto é tempo – I, de João Oliveira (Menção Honrosa) Artista visual soteropolitano, João Oliveira apresenta gravura em que trata do amor não-recíproco, demente e imaginário – que independe do objeto de amor – e que surge naquele que o sente ou a ele é propenso, comprometido pela sua irrealidade. O amante tenta alcançar no amado algo impossível, simbiótico, numa tentativa desesperada de atingi-lo em sua imaginada essência. Mendigando afeto como um cão sem dono, o ser apaixonado personifica-se no que acredita ser o que o outro espera, nesse caso o cão fiel, incondicional, ladrando seu amor em urgência, e revela-se capaz de renunciar voluntariamente ao seu amor-próprio.

= O cambista, de Jailson Paiva (Prêmio do Público) O artista plástico pernambucano e residente em Irecê Jailson Paiva apresenta escultura em tamanho natural em cimento e ferro, que representa uma pessoa ainda viva que foi excluída do seu ambiente de trabalho por conta do advento das máquinas eletrônicas que substituíram os talões manuscritos dos cambistas.

Edição de Jequié

= Autopoiese, de Ricardo Alvarenga (Obra Premiada) Mineiro residente em Salvador, o performer e artista multimídia Ricardo Alvarenga apresenta instalação com sete fotografias de 40 cm x 60 cm, referenciada no conceito de autopoiese – autoprodução de si, como condição natural de ser vivo, operando em natureza cíclica. A cabeça-tufo se transfigura em tufos-cabeça, e ambos se produzem mutuamente. Os tufos presentes no trabalho são emaranhados de cabelos do performer, recolhidos durante os últimos quatro anos, na ritualização cotidiana dos banhos. A performance consiste na manipulação dos cabelos que ora são esculpidos como uma bolsa que acondiciona os tufos, ora são esculpidos como uma máscara que realiza um ser sem face. A ação de tirar e recolocar os tufos de forma cíclica é realizada ininterruptamente enquanto há público na galeria. Um vídeo da ação é exposto nos dias que se seguem à abertura. Os créditos das fotografias são de Peruzzo e do vídeo, de Paula Carneiro.

= Ausentes, de Rosane Andrade (Obra Premiada) Artista visual nascida em Santo Antonio de Jesus e residente em Salvador mostra uma obra de intervenção urbana que propõe observar o espaço da cidade e posteriormente criar imagens que dialoguem com a rotina dos cidadãos. Nas imagens, são representadas cenas lúdicas de ações cotidianas dos pedestres, como, por exemplo, pegar um ônibus. Deste processo é feito um desenho que combina essas características com a do personagem adormecido reproduzido na obra, que se trata de um corpo com uma cabeça de travesseiro. O desenho situa-se sobre um fundo de linhas que mostra como a artista entende o espaço social-urbano: um fluxo que aprisiona as situações e, portanto, adormece o sujeito. Assim, é traçado um paralelo entre o corpo ausente e o estar presente, sendo este último intuído como uma percepção adormecida, um estado de inércia. Esse estado não é constante, constituindo-se tão somente numa espera por um fenômeno que nos tire dessa realidade sonhada.

= Prometeu e São João brincando de inquisição em paisagem cruzalmense, de Zé de Rocha (Obra Premiada) Zé de Rocha, artista visual e músico, apresenta objeto díptico com 160 cm x 210 cm em que utiliza, como instrumento para riscar/desenhar, o artefato conhecido como “espada de fogo” (espécie de busca-pé construído com bambu, argila e pólvora), proveniente da queima de espadas, manifestação cultural centenária de Cruz das Almas, cidade onde foi criado. Este trabalho tem como princípio criador a polissemia da palavra “risco”, que abarca as acepções de traço feito numa superfície e de possibilidade de passar por perigo. Além disso, evoca a relação de fascinação e medo que prevalece como matriz de interação social. Costumes e festividades estabelecidas em torno do embate com o perigo, que resistem na contramão de uma incitada homogeneização mundial da cultura.

= Cidade Babilônia, de Alex Oliveira (Menção Honrosa) O fotógrafo Alex Oliveira traz ensaio que tem um viés social e político. Traduz um espaço suspenso no tempo, um retorno ao imaginário construído durante o período da infância e adolescência em que morou em Jequié, sua cidade natal. Uma das questões mais importantes do ensaio é a possibilidade que as imagens têm de comunicar, incitar o diálogo e a difusão das questões que abarcam a relação entre o progresso e a decadência das grandes construções arquitetônicas submetidas ao choque de ideologias e interesses econômicos. A obra denuncia, torna evidente, um espaço que foi esquecido, naturalizado como invisível, como tantas outras questões que na contemporaneidade tendem a ser esquecidas pelo fluxo diário do cotidiano.

= Escolha sua garota favorita, de Mike Sam Chagas (Menção Honrosa) Mineiro residente em Salvador, o artista plástico Mike Sam Chagas reúne elementos díspares, como frases, máquinas de fliperama, logotipos, retratos, cenas adolescentes de Salvador, nesta pintura em políptico de 140 cm x 280 cm. As obras funcionam como colagens que, tendo como suporte a tradição da pintura, refletem o desejo dos pintores de desvelar a própria natureza de seu ofício. Ao substituir as modelos anônimas do jogo por mulheres consagradas como musas pela História da Arte, o trabalho brinca, ao inseri-las num contexto de jogo erótico, com a noção de aura que envolve determinados objetos artísticos (e também artistas), misturando sedução e reverência na relação lúdica entre modelo, artista e espectador.

= Contempladores da Ganância Insaciável, de Augus (Prêmio do Público) O conjunto de fotografias de Augus, fotógrafo, artista visual e videomaker de Jequié, tem 200 cm x 90 cm e representa uma visão sequencial de um momento do cotidiano de uma parcela de moradores da cidade. A obra em preto e branco remete ao início do capitalismo e demonstra que, na essência, nada mudou na mente dos empresários opressores e que a grande massa humana continua sendo comandada e imprensada na passarela de ferro dos controladores do sistema. Mostra uma ponte estreita que leva à porta larga da revolta e do desânimo que leva o operário a descer o penhasco pedregoso, e, na margem do rio fétido, explorado e dragado, contemplar no seu horário de repasto a ganância insaciável.

Edição de Juazeiro

= Frente e Verso, de Alex Moreira (Obra Premiada) Nascido em Presidente Dutra e residente em Juazeiro, Alex Moreira apresenta obra em técnica mista, com 90 cm x 60 cm x 4 cm, que trazem todos os documentos originais do artista: RG, CPF, Certidão de Nascimento, Reservista, Título de Eleitor, Comprovante de Quitação Eleitoral, Carteira de Trabalho, Diploma de Graduação e todos os cartões de conta bancária e crédito. Uma demonstração de entrega e doação para a arte, deixando-o vulnerável a qualquer acontecimento que necessite de um desses documentos, sem acesso às contas bancárias, sem poder viajar, ser atendido em hospitais, tirar passaporte, realizar pagamentos, ser vistoriado pela polícia ou forças armadas, ficando inclusive exposto a estelionatários. Não poderia, também, comprovar ser um cidadão brasileiro, abrindo uma reflexão sobre o uso exagerado dos documentos que fazem como que sem esses números não existíssemos.

= Passeio Socrático, de George Lima (Obra Premiada) Artista visual de Feira de Santana, George Lima apresenta obra em que busca uma reflexão acerca do sentimento de “ser feliz”, nos tempos “pós-modernos”, em meio a aspectos regidos pela “sociedade do espetáculo”, como publicidade, entretenimento, consumo etc. O registro foi realizado no interior de um shopping center. Composta por uma série de cinco fotografias digitais de 80 cm x 80 cm, plotadas em vinil transparente e fixadas sobre peças de porcelanato polido de mesmas dimensões, na cor branca (uma peça de piso para cada imagem), a obra tem como medida total 80 cm x 400 cm. As cinco imagens são expostas, juntas e alinhadas, sobre o piso, no interior do espaço expositivo, de forma que as pessoas possam circular livremente pelo seu entorno. O propósito é instigar o público a interagir com a obra.

= Maracutaia S/A, de Ramon Rá (Obra Premiada e Prêmio do Público) Artista visual soteropolitano, Ramon Rá apresenta instalação que resulta de observações extraídas dos objetos e das relações do cotidiano. O Bombril, elemento utilizado no serviço doméstico de limpeza, é o suporte escolhido pelas suas características, para modelar cerca de 1.500 ratos de tamanhos que variam de 15 a 40 centímetros. Para o artista, foi fundamental o encontro com esse material de suporte, por ele agregar num mesmo elemento a maleabilidade, a textura e a coloração necessárias para concretizar sua poética visual, além do valor semiótico que assume, evocando elementos como ética, consumo e transitoriedade. A obra propõe um mergulho nas relações homem/objeto, humanizando os objetos e coisificando o humano.

= Sistema de Controle, do Coletivo Neri Neves (Menção Honrosa) George Neri, fotógrafo, artista visual, artista plástico, videomaker, e Núbia Neves, videomaker e artista plástica, ambos residentes em Vitória da Conquista, formam o Coletivo Neri Neves. A instalação premiada dispõe sobre a parede uma impressão em papel do símbolo de um código de barras qualquer. Defronte da imagem do código de barras, um sensor sonoro e uma luz infravermelha detectam o movimento e acionam o som característico emitido quando um leitor de códigos é acionado. Esta proposta sugere uma reflexão múltipla das variáveis que se apresentam na relação consumo, mercado e mercadoria, colocando o público em posição de objeto consumido, ampliando também o relevo estético de uma situação corriqueira que representa o pilar da sociedade capitalista.

= Kab ide Tuti – SEXta SEX – You tube or not You tube, de Tuti Minervino (Menção Honrosa) Tuti Minervino, artista visual soteropolitano, apresenta videoinstalação que reúne três vídeos gravados em uma tarde, durante a residência artística na FAAP em São Paulo, em 2012. Dois dos vídeos partiram da body-art do artista. As tatuagens (Cabide e Sex-Sáb-Dom) foram o motivo para fazer a videoperformance. No Cabide, ele veste e sustenta o personagem, uma espécie de marca e assinatura no seu corpo. O terceiro vídeo (You tube or not You tube) trata da questão de “identidade”, do corpo deslocado. Ali, o artista representa um nordestino caricaturado questionando-se sobre qual o fim que daria à sua obra: postar ou não no Youtube (essa é a questão). Quer dizer da cara e coragem de um cidadão de outro lugar e realidade em terra estranha, onde ainda existe um preconceito com o povo do Nordeste do país. E esse é o destino que ele sonha, a terra prometida, mudar de vida etc.

ESQUIZÓPOLIS Onde: Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) e Museu Náutico da Bahia – Farol da Barra Abertura: 20 de junho, 19 horas, no MAM-BA Visitação no MAM-BA: 21 de junho a 1º de setembro, terça a sexta, 13 às 19 horas; sábado e domingo, 14 às 19 horas Visitação no Museu Náutico: 21 de junho a 1º de setembro, terça a domingo, 8h30 às 19 horas; durante o mês de julho, a visitação é todos os dias da semanas. Quanto: Gratuito Realização: FUNCEB/ MAM-BA/ IPAC/ SecultBA

 

 

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