O último conto de fadas

 

O ÚLTIMO CONTO DE FADAS

A palavra fugacidade

Um trem sem ninguém dentro

Fotos amarelecidas…

A solução para as vidas

desencontradas

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Uma batalha perdida

A inteira lida perdida

O ímpeto dos cavalos

A moça que ficou velha

e esquecida

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A arte de estar sozinho

O último conto de fadas

A estrada para a estrada

A mão, sobre o homem feito,

do menino.

(Antonio Brasileiro)

Novos poemas de Adélia Prado

 

A Paciência e seus limites

Dá a entender que me ama

mas não se declara.

Fica mastigando grama,

rodando no dedo sua penca de chaves,

como qualquer bobo.

Não me engana a desculpa amarela:

‘quero discutir lírica com você’.

Que enfado! Desembucha, homem,

 tenho outro pretendente

 e mais vale para mim vê-lo cuspir no rio

 que esse seu verso doente.

 

Senha

 Eu sou uma mulher sem nenhum mel

 eu não tenho um colírio nem um chá

 tento a rosa de seda sobre o muro

 minha raiz comendo esterco e chão.

 Quero a macia flor desabrochada

 irado polvo cego é meu carinho.

 Eu quero ser chamada rosa e flor

 Eu vou gerar um cacto sem espinho.

 

Humano

A alma se desespera,

mas o corpo é humilde;

ainda que demore,

mesmo que não coma,

dorme.

 

Poemas de Adélia Prado, do novo livro Miserere (Record – 2013) que será lançado nesta quinta-feira.

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Um livro, muitas história: Então…

Tive a honra de receber o mais novo livro de poemas do poeta Iderval Miranda, lançado em junho de 2013. Motivos diversos me obrigaram a deixa-lo na estante, espiando para mim e impondo a sua presença. Acontece que “Então”, não é um livro qualquer; não é para ser folheado. Ele é documento, memória, poesia, vida.

Publico hoje o primeiro poema, aquele que me prendeu. Aos poucos apresentarei as diversas facetas desse livro instigante.

Breve metafísica

já não me bastam as pequenas fantasias,

ou volúveis sonhos, as noites de desespero.

diante de mim,

o deserto da grande espera

e o infindável horizonte do nada.

assim caminharei,

por sobre pedras e espinhos,

buscando em carne e espírito

o que foi sem nunca ter sido.

In MIRANDA, Iderval. Então (poemas). Feira de Santana, Tulle, 2013, p. 83.

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Sobre Poemas e Poetas

 

Mario Quintana – Caricatura Arradium

 

“Às vezes você acha que está dizendo bobagens e está é fazendo poesias”

“A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco… Porque a poesia é uma loucura lúcida”.

                                                         (Mário Quintana)

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Um momento com Clarice

 

Meu Deus, me dê a coragem

Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços

meu pecado de pensar

in: Um Sopro de Vida, 4. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978, pp. 154-155

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