A Paciência e seus limites
Dá a entender que me ama
mas não se declara.
Fica mastigando grama,
rodando no dedo sua penca de chaves,
como qualquer bobo.
Não me engana a desculpa amarela:
‘quero discutir lírica com você’.
Que enfado! Desembucha, homem,
tenho outro pretendente
e mais vale para mim vê-lo cuspir no rio
que esse seu verso doente.
Senha
Eu sou uma mulher sem nenhum mel
eu não tenho um colírio nem um chá
tento a rosa de seda sobre o muro
minha raiz comendo esterco e chão.
Quero a macia flor desabrochada
irado polvo cego é meu carinho.
Eu quero ser chamada rosa e flor
Eu vou gerar um cacto sem espinho.
Humano
A alma se desespera,
mas o corpo é humilde;
ainda que demore,
mesmo que não coma,
dorme.
Poemas de Adélia Prado, do novo livro Miserere (Record – 2013) que será lançado nesta quinta-feira.
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