O Brasil precisa saber

02/07/2012 – 15h44

Governador da Bahia é vaiado em desfile

EDER LUIS SANTANA

 COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SALVADOR

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foi hostilizado pela população nesta segunda-feira (2). Vaias e palavras como “traidor” e “fora Wagner” foram disparadas por centenas de pessoas enquanto a comitiva do petista andava pelas ruas do centro histórico de Salvador, no desfile do 2 de Julho.

O 2 de Julho é um evento cívico que reúne milhares de pessoas para celebrar a data que marca a expulsão das tropas portuguesas da Bahia, em 1823, durante o período de lutas pela independência do Brasil. Este ano, cerca de 200 mil pessoas participaram da festa, segundo a Polícia Militar.

Em Salvador, o 2 de Julho serve todos os anos como termômetro do cenário político. Gestores públicos e candidatos vão às ruas em comitivas, sendo obrigados a encarar os eleitores e as manifestações de carinho ou repúdio. No caso de Wagner, o desgaste teve início em janeiro, com a greve da PM que durou 12 dias, e segue com a paralisação dos professores, que completa hoje 83 dias.

O desfile percorre cerca de oito quilômetros. Wagner foi vaiado a todo momento por pessoas com faixas e cartazes com frases do tipo “Todos pela educação, menos o governo”.

Como atos de protestos eram esperados, a equipe do PT tratou de blindar o governador com um forte esquema de proteção. O Largo da Lapinha, de onde sai o desfile, foi cercado com grades, policiais e seguranças que impediam a circulação na área oficial do governo. Até a saída da comitiva de Wagner foi antecipada e, ao contrário de anos anteriores, saiu no início do cortejo, antes mesmo das manifestações populares.

“Acho injusto. Tenho tranquilidade em dizer que me considero um homem dedicado à educação”, disse o governador, sobre as vaias.

Os professores em greve na Bahia pedem reajuste de 22,22%. O governo oferece aumento de 7% para novembro, com outros 7% acrescidos em abril de 2013.

“Querer ganhar mais é razoável, mas tem de estar dentro do padrão. Não tenho como atender [o aumento], pois arrebentaria o orçamento do Estado. Se a guerra é comigo, se a raiva é com governador Jaques Wagner, então que não descarreguem essa raiva nos alunos que não tem culpa nenhuma”, afirmou o petista.

Ao lado dele estavam o candidato à Prefeitura de Salvador, Nelson Pellegrino (PT), e a vice Olívia Santana (PC do B). Para tentar fazer com que a rejeição ao PT não atinja sua candidatura, Pellegrino diz que manterá “projetos consistentes para recuperar financeira e administrativamente a cidade”.

Já os demais candidatos à prefeitura aproveitaram o dia. O deputado federal ACM Neto (DEM) foi aclamado e barrava seus próprios seguranças para garantir que ninguém ficasse sem tirar fotos ao seu lado ou receber abraços.

O deputado federal Márcio Marinho (PRB) e o professor municipal Hamilton Assis (PSOL) também circulavam entre os eleitores.

Já o candidato do PMDB, o radialista e ex-prefeito de Salvador Mário Kertész, deixou o desfile na metade do caminho. De acordo com sua assessoria, Kertész teve de ir a um almoço com líderes do PDT que negociam uma coligação. O PMDB prometia sair sozinho na briga eleitoral, mas já coligou-se com o PSC.

Fonte: Folha de São Paulo

Manifestação ofusca participação de prefeituráveis no 2 de Julho

As vaias e manifestações contra o governador Jaques Wagner acabaram monopolizando as atenções das comemorações da Independência da Bahia nesta segunda-feira, 2 de Julho, data da expulsão das tropas portuguesas do Estado em 1823. Com isto, a participação dos principais candidatos à prefeitura de Salvador nos festejos no Largo da Lapinha acabaram sendo ofuscadas.

O candidato do PT, Nelson Pelegrino minimizou a manifestação, por classificar como algo específico de uma classe (dos professores), e não da população em geral. Pelegrino afirmou que este evento não vai abalar sua candidatura, pois o principal objetivo da eleição é a discussão de um projeto para a cidade.

Já o candidato do PMDB, o radialista e ex-prefeito de Salvador, Mário Kértesz, que acabou deixando às pressas os festejos para uma reunião de última hora com o PDT, avaliou que estas manifestações dão o indício que a questão da educação será um tema muito forte no debate eleitoral em Salvador.

Para o candidato do DEM, ACM Neto, o governador está em uma posição incoerente com seu passado, e, por isso, encontra-se em um situação difícil. Neto disse que, ao contrário de Jaques Wagner, nunca participou de uma greve. Mesmo assim, afirmou que não pretende usar a greve dos professores da rede estadual de ensino durante a campanha para ter dividendos políticos.

Fonte: A Tarde

Professores fazem paródias para protestar contra governo Wagner

Luana Ribeiro
luana.ribeiro@redebahia.com.br

Nos últimos dias, uma trilha sonora diferente invadiu os carros de som das manifestações dos professores da rede estadual de ensino. As dez faixas do CD “Hits da Greve”, com paródias de músicas conhecidas, tem versos como “Traíra, traíra, assim você me mata…”, versão de Ai, se eu te pego, internacionalmente famosa na voz de Michel Teló.

As paródias foram compostas por um grupo de seis professores há cerca de um mês.“Foi meio de brincadeira, cada um foi dizendo uma frase e fomos fazendo”, conta um dos compositores, que preferem não se identificar.

Compositor de Inventando Moda, uma das músicas parodiadas, o cantor Magary, viu com bom humor o uso de sua música para o protesto. “Achei a paródia divertida. A música, quando se torna muito popular, acaba virando uma espécie de obra de domínio público e aí cada um usa a música como achar mais engraçado”, afirma.

Além de criticar a posição do governo estadual durante a greve, que completa hoje 81 dias, as versões servem para levantar o ânimo dos grevistas. “Afinal, a gente tem sofrido muito com essa greve”, afirma um dos professores.

Após um tempo tentando viabilizar a gravação, conseguiram apoio de um produtor artístico de uma banda conhecida, que segundo eles, também prefere se manter no anonimato. “Ele nos deu essa força, porque é solidário ao movimento, mas não quer que a gente divulgue, para não ligar o nome da banda à greve”, diz o professor. O CD foi gravado em dez horas de gravação em estúdio, com uma equipe de 18 pessoas e cem cópias foram feitas, por “restrição financeira”, informou.

Para divulgar as músicas, os professores pretendem tocar o CD nas manifestações. Uma das oportunidades de estreia foi na última quarta-feira, na frente do Centro Educacional Carneiro Ribeiro – Escola Parque, onde foi realizado o primeiro Aulão Enem, aulas de reforço para o exame contratadas pela Secretaria Estadual da Educação.

O CD foi tocado novamente em ato público realizado ontem na Praça Nelson Mandela, no bairro da Liberdade, mas a grande aposta é o desfile cívico do 2 de julho.

Impasse

A próxima assembleia da categoria acontece na terça-feira, mas não há indicativo de nenhuma rodada de negociação. Portanto, o CD deve tocar ainda muito.

O presidente da ALPB, Rui Oliveira, afirmou que em 80 dias de greve o sindicato e a Secretaria Estadual de Educação (SEC) se reuniram apenas uma vez, no dia 10 de abril. “Esse foi o único encontro diante das nossas reivindicações”. A SEC não comentou.

O arcebispo primaz do Brasil, dom Murilo Kriger, desde o início da greve intermediou reuniões tanto com os professores quanto com o Governo do Estado. Porém, nos últimos dias não participou de nenhuma negociação. Segundo o coordenador de comunicação da Arquidiocese, padre Manoel Filho, “o arcebispo está acompanhando os fatos da greve e quando for solicitado irá intermediar novas conversas”.

O Mistério Público do Estado também não se pronunciou sobre a greve.
Anteontem, a Secretaria de Educação e a Secretaria de Administração do estado rescindiram o contrato de 57 professores do Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), que não teriam comparecido à convocação para dar aulas no plano de reposição para alunos do 3º ano. Outros três professores efetivos foram afastados acusados de vandalismo.

Fonte: Correio da Bahia

 

Professores: o silêncio dos bons

A Folha de São Paulo publicou hoje reportagem com o título “Governo da Bahia promove “aulão” que tem até show de reggae”. Embora mostre algumas facetas da greve, a reportagem tece comentários sobre as medidas tomadas pelo governador com o intuito de “amenizar a situação dos estudantes que estão sem aulas há mais de dois meses”. No entanto, nada é dito a respeito da intransigência do governo, do confisco das vantagens funcionais dos professores, entre outras coisas.

Na realidade, com o objetivo de esvaziar a greve dos professores da rede pública estadual, que exigem o pagamento do piso salarial instituído pelo governo federal, a Secretaria de Educação assinou contrato, sem licitação, de R$ 1,5 milhão com a empresa Abais Conteúdos Educativos & Produção Cultural Ltda, coordenada por Jorge Portugal.

Ontem (27) o primeiro “aulão” foi realizado enquanto os professores da rede pública protestavam diante da escola. Segundo a Folha “a primeira edição da aula-show reuniu professores que, sobre um palco, falaram sobre crise no Oriente Médio e impactos do narcotráfico no Brasil, entre outros assuntos”. Dois alunos se manifestaram a respeito: “Diferente do que teríamos na sala, com o professor próximo da turma”, segundo Jadson Almeida, que quer cursar enfermagem. Larissa Lima, no entanto, gostou da iniciativa por poder relembrar alguns temas. Mas, para ela, o “aulão” busca disfarçar o impasse da greve. “Deveríamos ter aulas normais e ‘aulões’ como complemento.

Jorge Portugal, conhecido na Bahia como apresentador de programas de televisão, está à frente da iniciativa; a reportagem afirma ainda que a empresa em questão fechou outro contrato com o governo, de R$ 1,9 milhão, para fazer programas de TV com temas do Enem e de vestibulares.

Ainda na mesma reportagem, segundo a professora Sandra Marinho, da Universidade Federal da Bahia, os gastos (com esses “aulões”) são discrepantes em relação ao ensino público. “Temos escolas em situação precária, com acervos de bibliotecas ameaçados. É a mercantilização da educação e a desqualificação dos profissionais da rede pública.”

Cabe salientar que os professores tiveram os seus salários cortados e lutam contra a intransigência do governo que se nega a negociar. Em várias ocasiões ele se mostrou irredutível e afirmou que não fará mais acordo. “Não haverá mais nenhum acordo, pois a categoria fez dessa greve uma luta política“. Ontem, em Campo Formoso, no interior do estado, ele repetiu mais uma vez que “Se depender de mim vocês não terão salário”.

Assim fica difícil, não é?

Por outro lado, novas iniciativas têm sido tomadas, como na Câmara Municipal de Feira de Santana, que promoveu um debate sobre a situação dos professores da rede pública. Leiam abaixo:

Greve dos professores: Sessão na Câmara Municipal de Feira de Santana debate situação da categoria

 Ney Silva

Professores da rede estadual de ensino, em greve há quase 80 dias, participaram na manhã desta quinta-feira (28), de uma sessão especial na Câmara de Vereadores. Eles lotaram a galeria para ouvir os discursos de representantes da APLB, de vereadores e do deputado Targino Machado.

O presidente da APLB-Feira, Germano Barreto lamentou a ausência de um representante do estado na sessão especial. Sobre a possibilidade de a greve acabar depois do dia 2 de Julho, o dirigente da entidade disse que não passa de mais uma história. “Botaram data, tiraram data e os professores continuam firmes na resistência”, afirmou.

Durante pronunciamento o deputado estadual Targino Machado informou que devido ao estresse a que estão submetidos, sem dinheiro até para comprar medicamentos, seis professoras já morreram vítimas de infarto. Ele fez duras críticas ao governador Jaques Wagner e o chamou de “traidor”.

A professora Nadja Sampaio, que integrou a comissão de professores para participar da sessão especial, destacou que é preciso saber qual é o país que as pessoas querem ter. “É um país de faz de contas. Onde as leis ficam no papel ou onde as leis são cumpridas?”, questiona. Ele lembrou que quando se elege um político se tem a expectativa que pelo menos as leis sejam cumpridas.

Segunda Nadja, a lei do piso é muito clara. Estabelece que a cada janeiro os professores tem direito a um aumento salarial. Além do piso, também diz que aposentados e pensionistas não devem ser prejudicados. Mas, segundo a professora o governo está indo de encontro á lei.

Ela esclarece que a proposta de 7% em novembro não vai contemplar aposentados e pensionistas. “No caso dos professores, de um modo geral, se eles aceitarem esse percentual agora, quando for em janeiro o piso terá um novo aumento e a categoria ficará excluída desse reajuste. O que nós estamos pedindo é que realmente se cumpra a lei”, afirmou Nadja.

A professora disse também que o reajuste de 22,22% foi concedido pela presidente Dilma e isso demonstra segundo ela, que se o percentual foi concedido é porque os estados e municípios têm condições de pagar. “O governo federal dá o aumento e o governo estadual diz que não pode pagar. Isso significa uma irresponsabilidade do governo federal?” questiona.

O vereador Ailton Rios, também lamentou a ausência de representantes do estado para participar do debate, o qual ele classificou como muito importante. Ele leu uma nota informativa publicada em jornais onde consta que está sendo incluído no Plano Nacional de Educação (PNE), a destinação de um percentual de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em políticas de educação durante um período de 10 anos.

Ele fez referências às informações do deputado Targino Machado de que existem ONGs recebendo milhões do governo do estado e, principalmente, o contrato da empresa do professor Jorge Portugal por cerca de R$ 1,5 milhão para realizar as aulas para os alunos do 3º ano do ensino médio.

Apesar da sessão não ter contado com a presença de um representante da Secretaria Estadual de Educação, o vereador Marialvo Barreto autor do requerimento que propôs a discussão diz que a ata vai ser encaminhada ao governador Jaques Wagner. “Seria bom que a Secretaria de Educação mandasse um representante para se tentar um acordo“, afirmou.

Na próxima segunda-feira professores de Feira de Santana vão participar de um protesto em Salvador durante as comemorações do 2 de Julho, data da Independência da Bahia.

Fonte: Acorda Cidade

 

“O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons.” (Martin Luther King)

.