Uefs abre inscrições para o 6º Festival de Sanfoneiros

A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) lançou editais de eventos do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) programados para 2013. Dentre os destaques está o 6º Festival de Sanfoneiros, realizado anualmente e consolidado como iniciativa de resgate de uma das principais culturas de raiz do Nordeste, a musicalidade praticada através da sanfona, que atrai artistas de diversos estados.

O 6º Festival de Sanfoneiros será disputado nas categorias até oito baixos e acima de oito baixos, em diversas etapas, com final no dia 24 de maio, no Auditório Central da Uefs. Nas duas categorias, além de troféus, o primeiro colocado recebe R$ 4.500, o segundo R$ 3.500 e o terceiro R$ 2.500. Também serão premiados os vencedores do júri popular, com R$ 1.500 e troféu em cada categoria.

Os interessados podem se inscrever, gratuitamente, até 12 de abril de 2013, no horário das 8 às 11h30 e das 14 às 17h30, de segunda a sexta-feira, no Cuca, localizado na rua Conselheiro Franco, 66, Centro, Feira de Santana, BA.

Galeria Carlo Barbosa

Também estão abertas as inscrições de projetos de exposição para a pauta 2013 da Galeria Carlo Barbosa, que funciona no Cuca. Podem participar artistas com propostas individuais ou coletivas. A iniciativa integra a política cultural da Uefs de valorização e difusão das diferentes linguagens artísticas e formas de expressão cultural, oferecendo espaços alternativos ao circuito das galerias comerciais de arte e abrindo o campo para novos talentos.

O terceiro edital lançado pelo Cuca diz respeito a inscrições para seleção de oficineiros, a fim de ministrarem aulas de natureza artística e cultural em turmas formadas em diversas categorias.

Os editais foram publicados no Diário Oficial do Estado da Bahia de 5 e 6 de janeiro de 2013 e estão disponíveis no site www.uefs.br/cuca. Contato com o Cuca pode ser mantido através dos telefones (75) 3221-9766 e 3221-9744.

Ascom/Uefs

 

 

Os poetas de Feira de Santana

 

Comentário de Affonso Romano de Sant’Anna na Radio Metrópole (BA), em 4/1/2013

 

Já estive uma vez em Feira de Santana fazendo conferências, mas não podia supor que ali havia uma insólita revista literária – Hera – e um consistente grupo de poetas . Agora o reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana Jose Carlos Barreto de Santana acaba de editar um grosso volume, mais de 700 páginas, fazendo-nos conhecer esses poetas agrupados entre 1972 e 2005.

Isto é o que se chama “diferença”. Tudo começou quando Antonio Brasileiro foi em `1967 lecionar Moral e Cívica no Colégio Estadual de Feira de Santana. Transformou a chatura daquela disciplina imposta pela ditadura em algo atrativo. Fez um concurso de redação, selecionou os aspirantes a escritor trabalhou com eles os textos que deram origem à revista “ Hera. Resultado: apareceu ali geração de poetas. Alguns surpreendentes. O leitor Nivaldo Moura, sempre atento, descobriu que havia até uma tese de Jecilma Alves Lima sobre esses poetas baianos. Tese que li e apreciei.

Essa publicação dos poetas de “Hera”, me lembrou dos antigos cancioneiros medievais que reuniam o melhor de uma época. Também nesta edição história de “Hera” são dezenas de poetas, uma safra significativa. Recebi o volume através de Roberval Pereira, poeta e teórico que sabe das coisas. Botei no facebook uma noticia dessa publicação e gostaria que os jornais do Rio e São Paulo acordassem, porque essas antologia de “Hera é imprescindível à historia da moderna poesia brasileira. No livro “Musica Popular e moderna poesia brasileira” estudei os grupos dominantes na poesia brasileira, mas a poesia brasileira não se limita àqueles grupos vanguardistas que se digladiavam naquela época. O crítico piauiense Assis Brasil mostrou isto numa série de antologias.

Gostei de saber que a geração mais velha de poetas baianos, como Ruy Espinheira e Florisvaldo Mattos deram força a esse movimento nascente. Tanta bobagem passando por poesia é publicada com destaque na imprensa do Rio e São Paulo, que ler esses poetas de “Hera” é um refrigério.

A poesia é um mistério. Ela sopra onde quer. Enquanto alguns zumbis perdidos na pós-modernidade ficam alardeando a morte da arte e a morte da poesia ela surge generosa, jovem e necessária. Como nesses poetas de Feira de Santana.

 

Observação: Agradeço particularmente à minha amiga Alana Freitas pelo envio da notícia. O comentário de Affonso Romano de Sant’Anna me deixou muito feliz. Sou fã do grupo desde os anos 70 e vibrei com a publicação da Antologia do Grupo Hera no ano passado; em minha modesta opinião, um documento histórico. Esta alegria é ainda mais forte, pois a minha cidade – Feira de Santana – está na origem de tudo. Parabéns aos poetas de Feira de Santana!

Ps. Aproveitei para publicar fotos dos jovens poetas.

Atualização: Recebi do poeta Iderval Miranda  mais três fotos dos jovens poetas da Hera, provavelmente dos anos 70 (as calças “boca de sino” e os os cabelos black-power atestam isso), para o “meu baú”. Muito obrigada Iderval!

 

Quando o poder dá as cartas

Tavinho Paes

quando o poder dá as cartas

falta um coringa no baralho

os ases se sentem reis

as rainhas andam com valetes

a sueca vira buraco

onde cada canastrão bate

pega o morto

e sai atrás de ouros

onde sobram copas, paus e espadas

até perder o que era pra ganhar

sem saber o que foi apostado

quando o poder dá as cartas

o baralho está sempre marcado

joga-se a paixão contra a ilusão

e quem tem as cartas na mão

nem sempre tem a sorte

ao seu lado

e trapaceia

por pura falta de opção

quando o poder dá as cartas

o jogo vira trabalho

a carta que cada um tem na manga

é sempre aquele coringa

que falta no baralho.

Tavinho Paes é poeta e compositor. Como poeta publicou mais de 100 títulos em edições independentes. Fez parte da chamada “geração mimeógrafo” dos anos 70. Como compositor, assina letras de mais de 200 músicas gravadas por artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Bethânia, Marina Lima, Marisa Monte, Gilberto Gil, Lobão, Rita Lee, Ney Matogrosso. Foi editor de O Pasquim e Rio Capital. Tavinho é um poeta multimídia, tem mais de 10 canais ativos na web e figura emblemática da cena poética do Rio de Janeiro.

Fonte: Blog do Noblat

Um grande homem, um amigo inesquecível: Bira

 

Vamos lembrar sempre do sorriso largo desse intelectual do povo

Patrícia Moreira*

 

O momento é de pesar, mas, certamente, Bira, como todos os seus alunos, amigos e colegas chamavam o mestre Ubiratan Castro de Araújo, certamente tiraria da manga uma pilhéria inteligente sobre os desígnios da morte, como que a desdenhar, ou a acreditar que por trás dela haveria algo de bom. E a despeito da perda e da saudade, é preciso, mais do que nunca, honrar seu nome e fechar este ciclo, lembrando um pouco de quem foi este homem de sorriso largo, que  partiu para longe nestes primeiros passos de um novo ano.

Conheci Bira, ainda menina, quando ele fazia doutorado na França, por intermédio de minha mãe, Leni David; ambos alunos da também saudosa professora Kátia Mattoso. Anos depois, em 1999, quando ensaiava entrar no Mestrado em História da Ufba, tive o privilégio de ser aceita como aluna especial na turma da disciplina Escravidão e Liberdade, que o professor Ubiratan Castro de Araújo ministrava.

Aulas

Ali, a História (com H maiúsculo), me conquistou de vez. Nas deliciosas aulas do professor Bira, ele sempre recheava os acontecimentos históricos com alguma curiosidade sobre os personagens, ou relatava detalhes pitorescos que davam às suas quatro horas de aula um toque diferente, que nos levava a esquecer do tempo.

Nesta ocasião, tive a honra de ler e traduzir, como trabalho acadêmico, alguns capítulos de sua tese de doutorado, sobre a economia escravagista na Bahia, dois volumes de mais de 600 páginas, escritos em francês, que, salvo engano, continuam inéditos. Do seu trabalho foi publicado A Guerra da Bahia: uma narrativa histórica sobre o processo de conflito social, econômico e racial que aconteceu em Salvador e no Recôncavo entre os anos de 1820 e 1823. Trata-se de textos extraídos da sua tese de doutorado que  integram a série de publicações” Capítulos”, lançada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia e reeditada pela Fundação Gregório de Mattos (da Prefeitura de Salvador), com o objetivo de valorizar a importância da participação popular negra na independência do Brasil,  nos quais retratava de modo particular os acontecimentos do 2 de Julho.

Lutas

Naquelas páginas, a participação dos negros nas lutas pela Independência da Bahia ganharam uma luz especial, contada também de uma forma singular, pois ele também tinha um jeito original de contar a História oficial.

Aliás, Bira não contava, vivia a História. Todos os anos, quando tive a oportunidade de acompanhar o 2 de Julho, lá estava ele desfilando seu entusiasmo pelas ladeiras do Pelourinho, saudando a memória do Batalhão dos Periquitos.

Além do ser querido e amigo, do seu papel como mestre de algumas gerações de historiadores, Bira também tinha seu lado militante, em defesa da cultura afrobrasileira. Mais uma vez, era um militante diferente, destes que dispensam clichês e bandeiras.

Fundação Palmares

À frente da Fundação Palmares, que presidiu nos primeiros anos do governo Lula, e depois à frente da Fundação Pedro Calmon, fez valer sua origem negra ao desenhar e tocar projetos que valorizavam a africanidade da nossa gente. Foi um militante ímpar. Dispensava os radicalismos dos movimentos negros e trabalhava no dia a dia pelo reconhecimento de um legado cultural, pela valorização do negro na sociedade e pela repartição do bolo social.

Bira também levou seu jeito bonachão para a sisuda Academia de Letras da Bahia e escreveu um livro, Histórias de Negro, que sintetiza sua luta e prova aquilo que ele sempre buscou em toda a sua vida: contar a história do povo da Bahia, sob a ótica do negro. Reação à opressão.

Sabedoria

Por tudo isso e muito mais, a velha cidade da Bahia, como ele gostava de dizer, ficou mais vazia, mais triste; perdeu um intelectual e um homem do povo. Bira leva consigo uma sabedoria de vida por fazer as coisas acontecerem de um jeito inusitado. Deixa-nos sua sabedoria acadêmica, sua obra, que ainda está para ser revelada para os historiadores de hoje e de amanhã.

*Patrícia Moreira é jornalista e mestre em História pela Ufba.

Fonte: O texto foi publicado originalmente no Jornal A Tarde de 04/01/2013, p. 7.

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