Atualidades

De sacolinhas e pieguismos

 Danuza Leão

 Há uma eternidade venho lendo nos jornais a polêmica sobre as sacolinhas de plástico dos supermercados, e confesso que nunca me interessei muito pelo assunto.

Houve uma trégua, agora falam de novo, e continuo sem refletir, quando vou ao supermercado, se devo levar uma sacola ecológica ou não.

É claro que todos queremos um mundo menos poluído, que um saquinho de plástico leva 400anos para desaparecer, etc. etc, mas não posso deixar de pensar.

Praticamente todos os produtos que se compra em qualquer supermercado já vem embalado, da fábrica, em plástico; se eu comprar 2 mangas e uma bandejinha de frango, as mangas serão colocadas dentro de um saquinho de plástico, e o frango já estará embrulhada em plástico, numa bandejinha de isopor. Mas para levar as mangas e o frango para casa, devo ter uma sacolinha de palha, é isso? Se a compra é grande, e eu peço para levarem em casa, tudo que eu tiver comprado –  absolutamente tudo – chegará, separadamente, em sacolas plásticas, as mesmas que não se deve usar quando se leva o produto. Então, que história é essa de sacolinhas biodegradáveis? Algum plástico deixará de ser usado nas feiras, nos hortifrútis, nas papelarias, nas embalagens de louça, de quadros, onde o plástico bolha é fundamental? Os plásticos são e continuarão cobrindo os alimentos na geladeira, os sacos de lixo continuarão sendo de plástico, e mais um milhão de coisas de que não me lembro vão continuar exatamente como são, mas há quem ache que as sacolinhas dos supermercados, se eliminadas, vão salvar a vida do planeta. Se as sacolinhas forem proibidas, você pode comprar uma, no próprio supermercado, mas vai pagar por ela R$ 0,17, e aí tudo bem. Mais um produto a ser vendido, que bom para os donos.

Está aí uma discussão que me escapa, que não consigo compreender, por favor, que alguém me explique.

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É muito bom um governo que cuida dos mais necessitados, que pensa nas crianças, na moradia para os mais pobres, etc. etc. Mas será que é mesmo necessário que cada uma das bondades que o governo atual proporciona seja chamada por títulos tão piegas? Não seria possível melhorar essa nova renda para os que têm filhos até 6 anos sem precisar chamá-lo de Brasil Carinhoso? Mais do que nunca, deve-se perguntar quem é o criativo autor encarregado de inventar esses nomes.

Isso se chama pieguice, coisa que existe para provocar, nos mais ingênuos, a sensação de “ah, como esse governo é bonzinho” _ se possível, com os olhos marejados. Mas no dia em que esses mesmos ingênuos tiverem mais escola, mais educação, e lido os livros, vão entender que a pieguice, é um apelo (excessivo) aos sentimentos; é o sentimentalismo ainda pior do que o sentimentalóide, beirando o ridículo.

Por falar nisso, ainda não ouvi nenhum ministro da Educação anunciar a abertura de escolas para atualizar professores que estudaram no século passado, e outras para que os futuros professores possam ensinar aos alunos todas as modernidades do mundo atual, única maneira de fazer um país crescer. Eles acham que comprar computadores para as escolas _ e mostrar na televisão _ é ser primeiro mundo.

Mas se isso um dia acontecer, tremo em imaginar que essa “bondade” virá _ se vier _ com a foto de uma criança sorrindo, com um slogan no qual prefiro não pensar.

O pieguismo é muito brega.

Rio, 20 de maio de 2012

Fonte: Ilustrando a Folha  (Bebel Franco)

 

Festival de Sanfoneiros – 23 de maio

O Centro Universitário de Cultura e Arte divulgou os finalistas do 5º Festival de Sanfoneiros, evento promovido pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Eles participam da grande final no dia 23 de maio, a partir das 19h, no Auditório Central do campus universitário, em apresentação aberta ao público.

Os classificados são:

Categoria sanfona até oito baixos: Aloísio Santos Pereira, Hermes Pereira Silva, José Apóstolo dos Santos, Luis Gonçalves de Andrade, Luiz Pinto Saturnino, Manoel Alves da Costa, Manoel Ferreira de Oliveira e Raul Carneiro Lima.

Categoria sanfona acima de oito baixos: Armando Lima Batista, Cícero Limeira Alves, Daniel Gomes Neto, Elizeu Cunha de Freitas, Igor Cavalcante de Araújo, Jeandro Ferreira da Silva, Jeferson Dias Rios e José Tadeu de Oliveira Filho.

Este ano o Cuca inovou nas etapas de seleção com apresentação prévia dos candidatos, ao contrário das edições anteriores em que os sanfoneiros eram escolhidos por uma comissão que avaliava os trabalhos gravados em mídia.

Participam artistas de diversos municípios e até de outros estados brasileiros em duas categorias. Para a grande final foram selecionados oito sanfoneiros de até 8 baixos e mais oito acima de 8 baixos. Em cada categoria, os premiados ganham R$ 3.500 (1° lugar), R$ 2.500 (2° lugar) e R$ 1.500 (3° lugar), além do prêmio júri popular no valor de R$ 1 mil.

O Festival de Sanfoneiros tem o objetivo de resgatar uma das principais culturas de raiz do nordeste brasileiro. Desde 2008, artistas têm se apresentado para públicos de todos os segmentos e faixas etárias, comprovando que a sanfona permanece forte no imaginário da população. Desta forma, o Festival se consolidou como uma das principais atrações da região que antecipam os festejos juninos.

Ascom/Uefs

O Museu e a Arte Contemporânea

Na arte contemporânea não existe limites estabelecidos para a invenção da obra, embora nem tudo em nome da liberdade, sem critérios e sem o risco de referências, a transgressão sem saber de que, divulgado como arte, é arte. Com o deslocamento dos suportes tradicionais, a exemplo da pintura e da escultura para outras opções estéticas ou experiências artísticas em processo, com o uso de novas tecnologias disponíveis ou não, mas principalmente com um novo conceito do que vem a ser uma obra de arte, hoje em dia, coloca em xeque o museu tradicional.

Determinadas linguagens de natureza diversificadas da atualidade solicitam a reformulação de demandas e  estratégias museias, um outro modelo museológico e museográfico.

O museu é o recipiente de conservar uma coleção e preservar uma herança  estética e cultural  de um tempo que passou e do presente para significar o possível futuro. Ele ocupa um lugar de destaque entre os diferentes elementos que compõem o sistema da arte. Assim como o hospício e a clínica, é provável ver nele um espaço de confinamento, um espaço sagrado, intocável e asséptico de exposição de objetos, que exige do espectador um ritual de contemplação, quase em silêncio, das chamadas obras de arte.

Não é um lugar neutro, tem história e implicações ideológicas. Na primeira metade do século XX, o museu de arte era o depósito de repouso do moderno, questionado no início desse século pelo precursor das poéticas contemporâneas, Marcel Duchamp e seu novo paradigma, bem humorado, para a arte: não mais uma coisa criada pelo artista, mas a coisa que o sujeito reconhecido como artista escolhe e decide para ser a obra de arte.

O museu como lugar passivo foi desarticulado com o Minimalismo na década de 1960 e logo em seguida a Arte Conceitual entrou em cena questionando de forma crítica e decisiva as instituições culturais, em especial o museu, o templo da sacralização da arte. O embate foi travado entre o museu e as novas propostas artísticas, efêmeras, privilegiando a ideia contra a materialidade que se armazena na instituição e alimenta o mercado de arte com mercadorias. A arte, desde então, passou a ser uma usina geradora de críticas, provocações e incômodos. Os mal-entendidos entre a arte e a  instituição museal foram inevitáveis e imprevisíveis.

O caráter problematizador dessa produção de arte praticamente rejeitou o estatuto da obra de arte como produto, isto contrariou interesses do mercado e o desejo de classificar e acomodar da instituição museológica. Para a arte contemporânea, o museu com sua arquitetura característica, com função de alojar uma diversidade de procedimentos, é um laboratório de ensaio do que pode ser uma obra de arte, um campo de experimentação. O museu é indispensável, é o ponto de partida e a estação de chegada. É ele que legitima o que se designa experiência artística. E o papel do museu, mais do que armazenar obras, é ser um espaço de pensamento crítico e educativo, frequentado por um público ativo e não mero observador do que está em exposição.

De certa forma, a arte produzida hoje, expõe feridas da cultura e do sistema da arte.  E o imaginário museal tem uma importância na formação do olhar capaz de pensar sobre a arte, do olhar que deixou de contemplar passivamente para experimentar e vivenciar. A arte de hoje não nos diz nada como a arte do passado, ela convida o espectador para refletir sobre o que é uma obra de arte e suas relações com o sistema institucional. Nesse caso, o museu é o lugar privilegiado para o exercício do pensamento, até porque, as obras efêmeras são transferidas ou resgatadas para dentro do discurso e da instituição museológica pelos documentos, registros e reproduções.

Almandrade

(artista plástico, poeta e arquiteto)

 

10ª Semana de Museus movimenta Museu da Cidade – Salvador:

Bate-papo com Almandrade

Tema: “O Museu e a Arte Contemporânea: Um Desafio”

16 de maio (quarta feira) às 10 h.

MUSEU DA CIDADE

Largo do Pelourinho – Centro Histórico – Salvador