Baio do Acordeon

 

Os festejos juninos se aproximam. A chuva caiu generosa e fez renascer a esperança em parte do interior baiano. Apesar da perspectiva de melhoras, inúmeras cidades  cancelaram os festejos juninos em razão da seca que atinge o estado. Muitas outras encolheram o calendário festivo em virtude da escassez de recursos financeiros, que devem priorizar o combate à seca. Entre elas, cidades como Senhor do Bonfim, Lençóis, Mucugê e Amargosa, palcos de festas tradicionais famosas pela animação e pelo grande número de turistas que as visitam para festejar o São João. Em 2012 vai ser diferente e os prejuízos não serão somente aqueles provocados pela estiagem; hotéis e pousadas, fabricantes de iguarias, bares, restaurantes, lojas de fogos de artifício e músicos também serão afetados.

No último dia 23 de maio, em Feira de Santana, aconteceu o V Festival de Sanfoneiros promovido pelo Cuca (Centro Universitário de Cultura e Arte). O vencedor do I Festival de Sanfoneiros, Baio do Acordeom, foi homenageado durante a festa. Baio – André Galdino dos Santos – nascido em 28 de Fevereiro de 1944, em Água Branca, Alagoas, e feirense de coração desde os sete anos de idade – é uma daquelas pessoas que têm dom de mudar o ritmo da vida. Adepto do “forró-pé-de-serra”, quem tem alguém como Baio por perto, não pode sentir tristeza; mesmo sem a fartura e variedade dos quitutes juninos, do milho e do amendoim que a seca não deixou nascer, a beleza da música nordestina que anima as festas de junho, ao som da sanfona, joga a tristeza para o alto.

O vencedor do I Festival de Sanfoneiros, do qual tive a honra de fazer parte da comissão julgadora, tem uma história bonita para contar. Seu pai era funcionário da Leste Brasileira e tocava sanfona de 8 baixos; Baio aprendeu com ele e juntos tocavam o “fole de 8 baixos” nas feiras livres das redondezas, acompanhados por Djalma (pandeiro) e Pedro (tambor), seus irmãos. Com o tempo resolveu experimentar outras sanfonas; inicialmente a de 24 baixos, a de 40, até chegar aos 120 baixos, mas tem preferência pela sanfona de 80 baixos.

Em 1974, no antigo Campo do Gado, famosa feira de animais que animava a cidade às segundas-feiras, Baio executava “Asa Branca” com a sua sanfona, quando foi ouvido por Luiz Gonzaga, o conhecido Rei do Baião. Gonzagão ouvindo aquilo ficou impressionado e muito feliz, a ponto de prometer-lhe uma sanfona branca. Algum tempo depois o presente prometido chegou ao endereço de Beto (a quem o Rei do baião confiava os consertos dos seus instrumentos quando passava pela Bahia), na Rua J. J. Seabra, em Feira de Santana, para que o mesmo fosse entregue a Baio. Beto não se encontrava em casa e o instrumento foi recebido pelo músico Erudilio, que o entregou ao destinatário: Baio do Acordeom. A história ficou famosa, quase uma lenda, mas a sanfona oferecida por Luís Gonzaga foi reverenciada como uma relíquia.

A trajetória artística de Baio é muito rica e bonita, enquanto sanfoneiro tradicional de Feira de Santana e região, muito conhecido na Bahia, no Nordeste e em grande parte do Brasil; ele conviveu com muitos artistas nordestinos, principalmente no final dos anos 60 e nas décadas seguintes, entre eles, o próprio Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Abdias dos 8 baixos, Marinês, Messias Holanda, Coronel Ludugero, Waldik Soriano e Lilico. Baio também participou da caravana CBS, com o grupo “Os Bambas do Nordeste”, formado por ele mesmo, Jorge (zabumba) e Binha (triângulo), com o Trio Nordestino (em especial, Lindú – um grande sanfoneiro e cantor de forró), Elino Julião (compositor e cantor do Rio Grande do Norte), Negrão dos 8 Baixos (André Araújo, grande tocador de “pé de bode” e muitos outros, especialmente, Jacinto Limeira.

Também participou de gravações de vários artistas como instrumentista, desde a época dos LPs e atualmente dos CDs. Baio é sempre solicitado para animar eventos juninos, ou sempre que o “forró pé-de-serra” é solicitado.

Parabéns, Baio! Enquanto existirem pessoas como você e sanfonas como a sua, o nordeste poderá sorrir, mesmo quando agredido pela seca inclemente.

Observação: As informações sobre o artista foram fornecidas por Jota Sobrinho e as fotos são do artista visual George Lima.