Versos de Luís Pimentel

 

Rio, Central do Brasil

 

Luís Pimentel

 Caras e culpas,

passos e abraços.

Sorrisos sem dentes

na boca da noite.

Vadios desencontros

e encontros vazios.

Na fria calçada,

calor de arrepio

e vida atrasada.

Leve suspiro.

Sapato apertado.

Um que é sem paradeiro.

Há quem conte mentiras,

enganando o silêncio.

Os que acordam cedo

vão bater continência

ante o busto do herói.

Têm as abstinências.

Vejo beijos e assaltos

sob o imenso relógio

Insigne

de um tempo tardio.

O sol sem remédio

morre lá na Gamboa.

Logo mais vem a lua

enxaguar a Baía,

sobre as luzes da Igreja.

As cotias do Campo.

A fumaça da Brahma.

O repique do Elite.

Os que bebem o sereno

não padecem de azia.

Entre o pão e o castigo,

entre o medo e a euforia,

ainda resta o elogio:

o Rio

é a Central

do Brasil.

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