ALEGORIA
Irma Rosa Caribé Amorim
Viajavam os ventos
ao infinito
Somente um barco
vagava
na tarde fria
de saudades rendilhadas
o sol em lágrimas últimas
beijou da noite
a face enluarada.
(Noite Clara, p.25)
Irma Rosa Caribé Amorim
Viajavam os ventos
ao infinito
Somente um barco
vagava
na tarde fria
de saudades rendilhadas
o sol em lágrimas últimas
beijou da noite
a face enluarada.
(Noite Clara, p.25)
Numa manhã de maio de 2006 depois de ministrar três horas de aula entrei na sala dos professores para tomar um cafezinho e descansar alguns instantes. Sentados à mesa estavam Roberval Pereyr e Irma Caribé, ele colega da faculdade, ela pessoa muito amiga da família. Ao sentar-me fui surpreendida pela proposta de Roberval:
– Leni, Irma vai lançar um novo livro de poemas; você poderia fazer a apresentação…
Fiquei encabulada, pois não me sentia preparada para escrever a apresentação de um livro. Argumentei e até sugeri nomes de outras pessoas que poderiam cumprir a tarefa com propriedade. Não adiantou. Levei uma cópia do livro para casa e à noite, após a leitura de alguns poemas, escrevi a apresentação motivada apenas pelo conteúdo do que li, impregnada que fiquei daquela poesia viva, dura e terna ao mesmo tempo:
Como falar de poesia sem pedir conselho a um mestre? Em A rosa do povo Drummond advertia sabiamente: não se deve adular o poema; deve-se chegar bem perto, contemplar as palavras, consciente de que cada uma delas tem mil faces secretas sob a face neutra.
Mas onde encontrar a chave que nos conduz ao universo das formas poéticas? O segredo desvendou-se à luz de Noite Clara,de Irmã Caribe Amorim e conduziu-me por caminhos impregnados de fragmentos de vida, flagrantes de sonhos, dores…
Irma é Poeta, artista da palavra. Sua poesia, nua, explode permeada de nuanças,
revela-se em versos fortes:
E no silêncio injusto da aldeia, ruíram todos os erros. Todos.
Ou em versos ternos, plenos de lirismo, como em Crepúsculo:
O vento esfriava meu rosto. / Nada se ouvia além do mar / batendo contra si mesmo.
Ou simplesmente em versos breves como um gesto:
No inverno do ocaso / me pressinto.
Sua escrita tem força, flui como fonte cristalina, mas também machuca, devagar,como pedregulhos na areia. Vale a pena penetrar em Noite Clara para percorrer veredas enluaradas ou floridas; sótãos abandonados ou recantos perdidos, de mãos dadas com a poesia, sem compromisso com as convenções.
(Leni David)
Para que possamos voar, esparramar beleza e ternura por aí, em Noites Claras, ou em dias ensolarados.
RICTUS II
Nada mudaria.
queria apenas viver
o outro lado da lua
e as coisas simples
do dia-a-dia
(Noites Claras, p.15)
POEMA TÁCITO
Chorei as dores do pássaro errante.
Ferida tombei.
Entre medo e heresias
brinquei com deuses.
e me afoguei no aconchego
De noites frias.
(Noites Claras, p. 18)
ALEGORIA
Viajavam os ventos
ao infinito
Somente um barco
vagava
na tarde fria
de saudades rendilhadas
o sol em lágrimas últimas
beijou da noite
a face enluarada,
(Noite Clara, p.25)
RUPTURA
…e rasgando a ventania
(leveza e fúria)
nada mais é preciso mulher
que arriar as velas
ocupar a gávea
soltar os cabelos
suspirar profundo
olhar ao longe
nada dizer…
permitir apenas
que seus olhos digam…
(Um solto no outro, p. 70)
Irma Rosa de Lima Caribé Amorim – Nasceu em Feira de Santana, cidade onde vive. Odontóloga e educadora, Irma dirigiu o Centro de Cultura Amélio Amorim e atualmente é vice-presidente da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana e membro da Academia de Cultura da Bahia. Publicou Um solto no outro (2003), em parceria com os poetas Cardan Dantas e Paulo Pedro Pepeu. Em 2005 publicou Noite Clara e em 2006, Avenida Senhor dos Passos. Tem poemas publicados nas revistas Hera e Arquitextos. Irma Rosa vive o dia-a-dia da cultura baiana.