Cláudia Campos, estudante da UEFS, analisando os poemas de Brasileiro, resolveu fazer uma brincadeira; imaginou uma entrevista e, de maneira criativa, respondeu às questões com versos do poeta.
1. Como foi o dia do seu nascimento?
O dia em que nasci não teve mistério algum.
O condutor do bonde almoçou à mesma hora,
a novela do rádio continuou em suspense,
a guerra era a mesma merda:guerra é guerra.
Foi um dia como hoje, como ontem, como amanhã
e como daqui a cem anos, com absoluta certeza.
2. Você se considera alguém muito inteligente?
Há coisas que não decifro.
E nem por isso sofro.
Estar no mundo é que é o difícil.
O sol é uma bola imensa.
Eu, pó de mésons.
Em torno a mim nenhuma só tormenta.
3. O que você acha da injustiça social?
Nós somos da mesma cepa,
mas vistos de binóculos somos os mesmos.
Eis uma grande injustiça.
4. Defina a vida e o mundo.
A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
Passando.
A vida – diz Manoel, o são – é
tempestável. E que é tempestável,
Manoel? Tempestável? Ah, tempestável !
É a vida, filho. Quem lá sabe !
5. Como você se vê daqui a alguns anos?
No fim dos tempos,
vou estar numa casinha de palha,
uns livros, um lápis,
papel almaço, a alma pura
e uns rabiscos pra ninguém ler,
só me confessar.
Ao deus dentro de mim, primeiramente.
E a quem não interessar possa.
6. O que dizer de seus poemas?
Meus versos são de pura essência
Dos poemas essenciais
Nada dizem de verídico
Não querem nada explicar.
Se por vezes falam alto
É por puro gozo, júbilo.
7. Se tivesse que definir sua função no mundo, qual seria?
Fico só comigo, como um lobo
Como um lobo fica só consigo:
Esse mundo é uma jaula;
Você , um inimigo.
8. Todos nós temos esperança em algo, num governo justo, nas melhores condições de vida e você tem esperança em quê?
A esperança, ah a esperança
Luz no porão iluminando ratos.
9. Quais são seus planos pro futuro?
Um dia ainda hei de escrever poemas fundamentais-
Como a pedra fundamental,
Como a lúgubre senhora magra
E as bússolas de pau com agulha de ferro
Boiando no óleo eterno.
10. Para encerrar, cite-me uma frase sua.
A verdade é uma só: são muitas.
E estamos todos certos. E sem rumo.
Entrevistado: Antonio Brasileiro
Entrevistadora: Cláudia Campos