Um poema de Roberval Pereyr

 

                          Canção

“Habito a mansão dos tristes, dos inconciliáveis”.

                                  T. S. Rausto

 

Não tenho muitas vontades:

contemplo a brisa;

às vezes me dói (à tarde) a vida.

 

São poucos meus companheiros,

eles estão perdidos –

e eu perdido com eles. Comigo.

 

São poucos e nunca os tive

nem os conheci –

apenas nos reunimos: para existir.”

 

                                   Roberval Pereyr

 

 

 

 

Eterno Damário Dacruz

 

Observação do Tempo

Amanhecemos

com os olhos de amanhã

e o dia é hoje.

.

Anoitecemos

com os sonhos de ontem

e a noite é hoje.

.

E de tanta

falta de sintonia,

de tanta busca

e farta agonia,

rabiscamos no calendário

a morte dos dias

                                   (Damário da Cruz)

Despedida poética

 

Último bilhete de Clarice Lispector, escrito no hospital da Lagoa no Rio de Janeiro, em 07/12/1977

 

“Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.”

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