França, o país onde é gostoso morar

Ana Carolina Peliz

Do 15 ao 21 de outubro a França promove a 23a “Semaine du goût”, algo que em português seria “semana do sabor”. Durante estes dias são realizados ateliês de cozinha ministrados por chefes “estrelados”, cursos sobre as profissões da gastronomia para crianças, degustações de vinhos, visitas a produtores rurais e feiras. Além disso, vários restaurantes oferecem um cardápio especial.

Toda esta maravilhosa orgia gastronômica tem o objetivo de sensibilizar as pessoas, principalmente os mais jovens, para a diversidade de sabores e produtos e principalmente, garantir a transmissão do “savoir-faire” e o futuro da gastronomia francesa.

Eu aproveito a deixa para falar de um dos temas inevitáveis de uma crônica sobre Paris: a culinária.

Um dia alguém me disse – claro, era um francês – que é mais fácil se adaptar em países onde a comida é boa. Simples, mas verdadeiro.

Eu me adaptei tanto que agora vai ser até difícil me “desadaptar”. A França para mim se traduz em cheiro de baguete saindo do forno, croissants crocantes, queijo, queijo e mais queijo.

Antes de vir morar aqui eu não sabia o que era iogurte e não conhecia as declinações da cebola.

Injustamente considerada esnobe, a base da culinária francesa na verdade é simples: produtos de qualidade regados com muita manteiga. Apesar de serem muito exigentes, é muito bom cozinhar para os franceses. Eles não têm preconceitos (comem rã e carne de cavalo!), demonstram grande interesse pelo que você cozinha, reconhecem e agradecem o cozinheiro/a e em geral, gostam muito da comida brasileira.

Raros são os franceses que dão lições sobre como tomar vinho. Se aprendem a degustar a bebida, não é para impressionar a audiência, mas para sublimar o prato e aumentar o prazer gastronômico.

Aliás, prazer na culinária francesa é a palavra de ordem. Deve vir antes, durante e depois de comer.

Antes, na busca do produto ideal, que pode incluir uma caça a champignons na floresta ou uma longa e animada conversa com o açougueiro, e depois, porque na França deve-se passar horas à mesa degustando também a companhia.

As conversas costumam ser sobre comida. Neste país, todo mundo fala de comida quase o tempo todo. Homens de terno na pausa do trabalho, universitários no bandejão, trabalhadores na construção e adolescentes no metrô.

Tudo isso para dizer que, na França, o sabor na verdade está presente todos os dias. E eu, que sou “gourmet” e “gourmande”, aproveito até o último pedaço.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV.

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