Parabéns Salvador da Baía de Todos os Santos

 

Caymmi, o grande cantor da Bahia consagrou-se no cenário musical nacional cantando canções sobre a cidade, seus bairros, a vida simples do povo, principalmente dos pescadores, e canções praieiras ainda vivas na memória do povo; é verdade que Caymmi compôs também alguns sambas-canção românticos, mas essa produção não representa a parte mais importante da sua obra. Um bom exemplo do canto de Caymmi em homenagem à Bahia são as canções O Samba da Minha Terra, Você já foi à Bahia? e O que é que a Baiana tem?:


 

Caymmi afirma que « Tudo, tudo na Bahia / Faz a gente querer bem / A Bahia tem um jeito / Que nenhuma terra tem »; Jerônimo, artista da geração 80, declara que « nessa cidade todo mundo é d’Oxum »; Caetano explica: « Itapuã, o teu sol me queima e o meu verso teima em cantar teu nome »; Gil, no retorno do seu exílio em Londres, faz confissões nostálgicas em Back in Bahia: « …tanta saudade, preservada num velho baú de prata dentro de mim…/ Do luar que tanta falta me fazia junto ao mar…/ Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar »; outros artistas baianos também fizeram confissões do mesmo gênero.

Denis Brean, nascido em Campinas – São Paulo, apesar de só ter escrito uma canção sobre a Bahia, compôs uma das mais belas homenagens que já se fez à Bahia. Composta em 1947 e gravada por Francisco Alves, « o rei da voz », Bahia com H foi regravada nos anos 80 por João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia e continua a fazer sucesso ainda nos dias atuais. Eis aqui alguns versos :

« Dá licença, dá licença, meu senhor

Dá licença, dá licença pra Ioiô

Eu sou amante, da gostosa Bahia

Porém, pra saber seus segredos serei baiano também

Dá licença de gostar, um pouquinho só

A Bahia eu não vou roubar, tem dó !

E já disse o poeta, que coisa mais linda não há

Isso é velho, é do tempo em que já se escrevia Bahia com H

Deixa ver, seus sobrados ladeiras e montes tal qual um postal

Deixa ver, Baixa dos Sapateiros, Charriô, Barroquinha

Calçada Taboão…

Sou o amigo que volta feliz

Aos teus braços abertos, Bahia

Sou poeta e não posso viver

Longe da sua magia

Dá licença, de rezar pra o senhor do Bomfim

Salve a santa Bahia imortal,

Bahia dos sonhos mil

Eu fico contente da vida

em saber que a Bahia é Brasil !… »

Homenagem a Lupicínio Rodrigues

 

Lupicínio Rodrigues, que faria 100 anos hoje, dia 16 de setembro, compositor famoso, conhecido como o criador  da “dor de cotovelo”,  canta um pout-pourri de músicas compostas por ele (“Ela disse-me assim”, “Vou brigar com ela” e “Nervos de aço”) no programa “Sambão” de Elizeth Cardoso em 1973, na TV Record.

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Último texto de João Ubaldo Ribeiro

 

 

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O último texto de João Ubaldo, que deveria ser publicado no próximo domingo, fala sobre regras e teve sua publicação antecipara para hoje, 18/07/2014, dia da sua morte.

 

O correto uso do papel higiênico

 

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.

Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.

Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.

Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão exemplar. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma – chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote -, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.

Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.

 Fonte: Uol