Muitos artistas e artesãos se encontram nas dependências do centro cultural. O conjunto musical Ânima Trio se apresenta nesse momento (11.15h), no palco do Teatro de Arena.
Anima Trio no Aberto do CUCA 2010
Muitos artistas e artesãos se encontram nas dependências do centro cultural. O conjunto musical Ânima Trio se apresenta nesse momento (11.15h), no palco do Teatro de Arena.
Anima Trio no Aberto do CUCA 2010
Cartas de Paris
Carolina Nogueira
Quem visita Paris esta semana vai certamente se surpreender ao esbarrar com a bandeira brasileira literalmente a cada esquina.
O jornal Le Monde está fazendo a maior propaganda do seu número especial sobre o Brasil – que estampa o lisonjeiro título de “o gigante se impõe”.
Mas desde a capa depreende-se que a revista vai além dos clichês óbvios. Ao lado do Corcovado, carnaval e futebol, a ilustração inspirada na bandeira brasileira faz referências à indústria aeronáutica, petróleo, energia nuclear, bio-combustíveis, jogos olímpicos. (Só não entendi muito bem a referência ao trigo ao invés da soja, mas tudo bem.)
Ao invés de uma entrevista com o presidente Lula como carro-chefe – o que o jornal provavelmente conseguiria, se quisesse – a publicação escolheu retratá-lo por meio de um abecedário com uma seleção de frases colhidas de seus discursos.
Algo inspirado no livro do Ali Kamel, desconfio. Editada com uma bela foto do presidente posando de estadista, o abecedário revela uma opção editorial honesta em relação à figura de Lula – sem oba-oba nem desdém.
Em seguida, a seção entitulada “25 anos de democracia” me surpreendeu, ao propor um enfoque que eu sinceramente não me lembro de ter visto na própria imprensa brasileira. Nós fizemos este balanço?
Este que o Monde propõe começa colocando em perspectiva o indiscutível papel de liderança do Brasil no mundo (“quem pode imaginar, hoje, resolver os problemas do mundo sem o Brasil?”, pergunta Sarkozy), temperado pelas “derrapadas” diplomáticas dos discursos de Lula.
Em seguida, ressalta a parceria militar estratégica com a França e avalia as ambições nucleares “preocupantes” do país. E adiciona um balanço melancólico das alianças regionais latino-americanas.
No balanço político, além dos perfis dos presidenciáveis e de alguns artigos mais ou menos bobos sobre a biografia de Lula e o passado da ditadura militar, uma entrevista com o ex-embaixador francês no Brasil, Alain Rouquié, revela um conhecimento de causa surpreendente – e uma falta de condescendência tipicamente francesa que, longe de ofender, oferece valioso material para nossa auto-análise.
A frase que serve de título para a entrevista, “os deputados brasileiros são eleitos na base do serviço prestado”, resume a ópera: clientelismo e um arcabouço legal engessado, que não ajuda as coisas a mudarem.
Sobre economia, a revista analisa os riscos de um “superaquecimento”. Nos artigos de sociedade, o fenômeno dos evangélicos divide espaço com uma análise madura – e nada sensacionalista – das nossas preocupações com uma violência endêmica.
Aos já cansados álbuns de paisagens, o portfolio escolhido para a revista mostra o cotidiano de um grupo que trabalha em uma favela. E na rubrica sociedade, telenovelas e futebol, que é abordado em seu potencial de ascenção social.
Seguindo a tradição francesa de uma imprensa que não se furta e flertar com a sociologia, a revista coloca a questão do que restou das raízes africanas de nosso povo e dedica algumas páginas às mais importantes regiões brasileiras. Há espaço até para a nova literatura brasileira, retratada em Milton Hatoum– ainda tão pouco conhecido no Brasil.
Para terminar, a alegria de viver brasileira – sem dúvida alguma, a parte do nosso país que o francês mais admira – em uma matéria que foge do óbvio, revelando nossa inventividade na arte.
Pelo nosso tamanho continental e por todas as contradições com as quais nos acostumamos a conviver, eu acho dificílimo definir o Brasil. Mas, sinceramente, o Monde não fez feio, não. Pas mal du tout.
PS: Esta coluna foi fortemente encorajada pela Gisele, das Cartas de Buenos Aires, que está de passeio por aqui. Obrigada pela “pauta”!
*Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant
Fonte: Blog do Noblat
Quinze horas seguidas de arte e cultura. Esta é a proposta do Aberto 2010, que será realizado no dia 17 deste mês. O evento marca as comemorações dos 15 anos do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), órgão responsável pela execução da política cultural da Universidade Estadual de Feira e Santana (Uefs).
O objetivo é trazer o grande público para o Cuca durante todo o dia para participar, gratuitamente, das mais variadas manifestações artísticas. Serão oferecidas atividades nas diferentes modalidades, como pintura, escultura música, dança, performance, teatro, literatura, literatura de cordel, vídeo, documentários, filmes, fotografia, artesanato, cultura popular e outras.
Selma Oliveira, diretora do Cuca, ressalta que a proposta é abrir o espaço para as pessoas que trabalham com arte e cultura nas mais diferentes linguagens, além de sinalizar para a comunidade que o Cuca/Uefs é totalmente aberto para todas as manifestações de cunho artístico e cultural
O evento será aberto oficialmente às 8h, com a intervenção cortejo teatral, que sairá do Coreto da Matriz em direção ao Cuca. Conta com a participação especial da Cia Cuca de Teatro, Núcleo de Dramaturgia Corporal, alunos das oficinas de teatro e artistas feirenses. A coordenação é de Jacy Queiroz, Geovane Mascarenhas e Elizete Destéffani.
Mas o Aberto 2010 vai mostrar muito mais, a exemplo do workshop de Lutheria (construção de violões) e laboratório de construção, com o professor Gilberto Guimarães. Exposição de Esculturas, com a participação dos artistas Pithon, Jorge Galeano, Nailson Chaves, Sonia Pedreira, Ronaldo Lima, Jaquisson Batista, Almandrade e Juraci Dórea.
O show “Minha Vida Minha Música”, com a participação da cantora feirense Dilma Ferreira, encerra o evento às 23 horas.
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
Poema obsceno
Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira
Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
– e espreitam.
In Na vertigem do dia (1975 – 1980)
Subversiva
A poesia
quando chega
não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
infringe o Código de Águas
relincha
como puta
nova
em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
reconsidera: beija
nos olhos os que ganham mal
embala no colo
os que têm sede de felicidade
e de justiça
E promete incendiar o país
In Na vertigem do dia (1975-1980)
Poema obsceno
Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira
Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
– e espreitam.
Na vertigem do dia (
Barulhos (1980-1987)
Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.
O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.
Um instante
Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente
Poema brasileiro
No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
Ferreira Gullar
In Dentro da noite veloz 1962-1975