Um livro, muitas história: Então…

Tive a honra de receber o mais novo livro de poemas do poeta Iderval Miranda, lançado em junho de 2013. Motivos diversos me obrigaram a deixa-lo na estante, espiando para mim e impondo a sua presença. Acontece que “Então”, não é um livro qualquer; não é para ser folheado. Ele é documento, memória, poesia, vida.

Publico hoje o primeiro poema, aquele que me prendeu. Aos poucos apresentarei as diversas facetas desse livro instigante.

Breve metafísica

já não me bastam as pequenas fantasias,

ou volúveis sonhos, as noites de desespero.

diante de mim,

o deserto da grande espera

e o infindável horizonte do nada.

assim caminharei,

por sobre pedras e espinhos,

buscando em carne e espírito

o que foi sem nunca ter sido.

In MIRANDA, Iderval. Então (poemas). Feira de Santana, Tulle, 2013, p. 83.

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UEFS Editora lança 14 novos títulos

 

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A UEFS Editora lança 14 novos títulos na próxima quinta-feira (21), a partir das 16h, em solenidade no hall do prédio da Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana, campus universitário. O evento vai contar com a presença dos autores para sessão de autógrafos e apresentação dos trabalhos.

Os livros a serem lançados e seus respectivos autores são os seguintes: Arlequim da Paulicéia (Aleilton Fonseca); Rosae: linguistíca histórica, história das línguas e outras histórias (Tânia Lobo, Zenaide Carneiro, Juliana Soledade, Ariadne Almeida e Silvana Ribeiro); Escolas Normais (Ione Celeste Jesus de Souza e Antonio Roberto Seixas da Cruz); Multitão: experimentações, limites, disjunções, artes e ciências (Susana Oliveira Dias, Elenise Cristina de Andrade e Antonio Carlos Amorim); Violência na Montanha – Uma leitura dos contos de Miguel Torga (Marcelo Brito da Silva); Matriciamento em Saúde Mental (Maria Salete Bessa Jorge, Marluce Maria Araújo Assis, Túlio Batista Franco e Antonio Alves Pinto); Lutas sociais, intelectuais e poder: problema de história social (Eurelino Coelho e Larissa Penelú); Griôs: dobras e avessos de uma ONG – Pedagogia – ponto de cultura (Marco Barzano); Desenhando a ideia de uma avenida feliz (Sidnei de Araujo Oliveira); Sem comparação Torga Rosa (Francisco Ferreira de Lima); Análise Socioambiental (Jocimara Lobão e Barbara-Christine Silva); Trabalho Docente e Saúde (Carlos Eduardo Soares); Rainha Destronada (Rinaldo Cesar Nascimento Leite), e Histórias de Antigamente (Silvia Correia de Codes).

Embora em atividade há poucos anos, a UEFS Editora tem publicado cada vez mais trabalhos relevantes produzidos pela comunidade acadêmica das mais diversas áreas científicas. É dada prioridade à publicação de obras originais de caráter técnico-cientifico e cultural, fruto de trabalho de pesquisa docente. As obras são selecionadas através de editais lançados periodicamente no site da Uefs (www.uefs.br/portal) e da própria Editora (www.uefseditora.com.br).

Ascom/Uefs

 

O arlequim da Pauliceia – Imagens de São Paulo na poesia de Mário de Andrade

 

Passeando em Sampa com Mário de Andrade

 

Um olhar apaixonado sobre uma obra apaixonada. O resultado são estas milhares de linhas/trilhos que conduzem o leitor aos bondes da São Paulo da garoa, aos lampiões a gás, levando-o a acompanhar sensorialmente a construção do Teatro Municipal, da Catedral da Sé, do Edifício Martinelli, ao lado de transeuntes de terno, gravata e chapéu no centro velho da cidade; mulheres à la française, à sombra dos primeiros arranha-céus, ouvindo os ruídos dos primeiros automóveis importados e o gemido cada vez mais rumoroso de uma Pauliceia que engatava marchas em direção a uma loucura que se desenhava e se redesenha até hoje. O que diria Mario de Andrade se visse a São Paulo atual do alto do Pico do Jaraguá, onde pedira, em testamento poético,  que os seus olhos fossem sepultados?

Aleilton Fonseca disseca a obra e a alma do famoso escritor, acrescentando pontos de vistas surpreendentes. Se você nunca leu Mário de Andrade ficará com vontade de ler. E se já leu fará uma nova leitura, uma redescoberta. De maneira elegante, Aleilton se coloca em segundo plano para elevar Mário de Andrade à altura que ele merece. Os dois se merecem e se incorporam na busca de compartilhar o sentimento e a poesia com seus semelhantes. Mário, frisa o autor, “procurava incorporar-se ao coletivo, como forma de destruir em si o egoísmo das distinções particulares, despojando-se dos valores que o tornam um indivíduo só e solitário”.

Aleilton nos oferece uma prosa poética, juntando fotos antigas da cidade a excertos da obra do modernista. Uma das fotografias mostra passageiros sentados de costas num bonde, talvez o mesmo em que Mário um dia se sentira sozinho ao escrever: “O bonde está cheio/De novo porém/Não sou mais ninguém”. Ao exprimir a cidade em versos, o poeta modernista procurou “domá-la, pô-la nas rédeas da linguagem, de novo humanizá-la, tornando-a inteligível, transparente ao sentimento humano”, acentua o autor, acrescentando que as críticas e os elogios do poeta a São Paulo são puros atos de amor.

Pegue o bonde, então, caro leitor, e vai conversando com Aleilton Fonseca e Mário de Andrade. Não se assuste se você vir passar um veloz Metrô ao largo. Compare as duas metrópoles, mas volte para o presente. Pode doer. Volte devagarinho.

Jaime Pereira da Silva (Jornalista)