Leni David
Seu João era conhecido como “mão de onça” na cidade em que vivia. Era um senhor alto, pele clara, olhos acinzentados, cabelos cortados curtos, voz de trovão. Não sei se tinha esse apelido porque tinha as mãos grandes, ou se tinha algo a ver com sovinice. Só sei que ninguém ousava chamá-lo assim. Apesar da sua fama de briguento, Seu João era muito querido na cidade.
Havia um café na praça principal, onde os fazendeiros da região se reuniam para conversar e negociar, sobretudo pela manhã. Em frente ao café havia uma banca de jornais e Seu João pegava o seu jornal, todos os dias, antes de ir para casa almoçar. Dobrava-o ao meio, enfiava debaixo do braço, ajeitava o chapéu no alto da cabeça e entrava na sua Rural Willys.
A mania de substituir o troco por bombons começou a ser disseminada, mesmo nas pequenas cidades do interior e o dono da banca de jornais adotou-a. No primeiro dia em que Seu João recebeu aquele troco inusitado, perguntou quanto valia aquilo e o vendedor informou que era equivalente a vinte centavos (de cruzeiro) o que, finalmente, não valia muita coisa.
O tempo passava, Seu João comprava o jornal e colocava as balinhas que recebia como troco, no bolso do paletó. Em casa depositava-as num recipiente sobre a escrivaninha e avisava aos familiares que não tocassem nos bombons, pois precisaria deles.
Um dia ele chegou à banca de jornais e perguntou:
– Quanto é o jornal, Seu Pelé?
E o vendedor, apesar de surpreso, respondeu solícito:
– Dois cruzeiros e oitenta centavos, Seu João!
Ele enfiou a mão no bolso, retirou um punhado de balas, que depositou sobre as revistas, e pediu ao vendedor:
– Confira aí, Seu Pelé; veja se é isso mesmo.
O vendedor arregalou os olhos, espantado e, sem entender o que se passava, questionou:
– Mas o que é isso, Seu João, pra que eu quero esses bombons?
– Ora, Seu Pelé, durante todo esse tempo o senhor me deu essas balinhas como troco. Já que elas valem dinheiro, guardei-as para pagar o jornal. Algum problema?
Seu Pelé coçou a cabeça, em silêncio, e recebeu os bombons.
Agora respondam: Seu João era sovina, ou sabia valorizar o seu dinheiro?
Kkkkkkkk
Adoro essa história!
E, fechando os olhos, chego a ver tia Lene contando, com um grande sorriso no rosto!
Belo resgate, tio Denis. O senhor é um ser especial!
Eu de volta a descobrir e aprender com as novas postagem desse blog.
Obrigado, Tinho! Leni deve estar feliz de ver que seus amigos voltam a ler seu blog! E fique com vontade para participar a sua construção!