Cuidado com os simpáticos e cordiais

 

Entre amigos ou em família, a minha opinião a respeito de fatos e comportamentos políticos é externada de maneira direta e franca. Aqui no blogue, meu instrumento de diversão e prazer, na maioria das vezes prefiro tratar de assuntos mais amenos, de coisas bonitas, úteis e agradáveis; de vez em quando, porém, externo a minha opinião a respeito de fatos que considero graves e de interesse público. A crônica que publico abaixo, da autoria de Nelson Motta, coincide com o que penso sobre canalhices, bajuladores e aproveitadores.

Leiam, vale a pena!

Simpáticos, cordiais e canalhas

Nellson Motta

Cuidado com os simpáticos e cordiais, sempre advirto minhas filhas, e mais ainda com os bajuladores e paparicadores: são condições básicas necessárias para o exercício da canalhice. Claro, se além de canalha o cara é antipático, grosso, mal-educado, fica bem mais difícil encontrar vítimas para suas canalhices. Poderá ser apenas um bandido óbvio. Canalhas não, eles podem ser vistos até como pessoas “respeitáveis”, podem ser muito queridos pela família, pelos amigos e aliados, que se beneficiam das suas canalhices, sem passar vergonha na rua, na escola e no trabalho. É o canalha gente boa.

Nada contra a simpatia ou a cordialidade, pelo contrário, com elas a vida e a convivência se tornam muito mais agradáveis, civilizadas e produtivas, e me esforço diariamente para usá-las como um estilo de vida. Não uma arma.

Assim como o psicanalista Helio Pellegrino dizia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, a simpatia e a cordialidade, quando usadas para o exercício da canalhice, são piores do que a secura e a dureza no trato. É o estilo preferido dos políticos brasileiros, dos grandes ladrões públicos, dos oligarcas que enriquecem com a política, mas não abrem mão de uma aura de respeitabilidade e prestígio – que os permite continuar nas canalhices.

São pessoas aparentemente doces e carinhosas, paizões e vovôzinhos, que defendem o clã em qualquer circunstância. São generosos e tolerantes com familiares, amigos e agregados, mas sempre com o dinheiro público. São contadores de causos pitorescos, gostam de citar provérbios populares de suas regiões, aparentam simplicidade interiorana, mas são raposas urbanas vorazes e vaidosas. Espertos, bem informados e maledicentes, são fontes disputadas por jornalistas, que em troca os poupam de maiores críticas. Católicos fervorosos, mantêm laços estreitos com o candomblé, mas jamais o admitem.

Eles são muitos, estão no Senado, na Câmara, em altos cargos da administração pública, estão todos ricos, poderosos e impunes. Em Brasília, os que os conhecem pessoalmente confirmam que são simpáticos e cordiais. Embora canalhas.

Fonte: Sintonia Fina

Um comentário em “Cuidado com os simpáticos e cordiais

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