Antônio Brasileiro: o avesso do poeta de olhar distraído e jeito esquivo

Por Leni David

Conheço Antônio Brasileiro desde os anos 70, quando era professor do Colégio Estadual de Feira de Santana e eu apenas uma professorinha iniciante. Ele chegava devagar, olhar distraído, cabelos longos, óculos à la John Lenon e sandálias franciscanas, usadas com meias. Sentava-se na sala dos professores e era de pouco conversava, preferia ler. Mas eu sabia que ele era o poeta, o criador da revista Hera. Seu jeito era calado e esquivo.

Nos anos 80, ainda como estudante da UEFS, participei de alguns colóquios e seminários sobre a revista Hera e seus poetas. A partir daí, os contatos foram mais freqüentes, mas não existia, ainda, entre nós, uma amizade sólida; esta só se concretizou nos anos 90, quando Brasileiro foi convidado a participar de um Congresso em Paris; eu morava lá.

Em 2004 criei o “Projeto Santos da Casa”, na UEFS; Brasileiro completaria sessenta anos e por sugestão de Cid Seixas, ele foi o primeiro homenageado. Organizamos o colóquio As multifaces de Antônio Brasileiro cuja proposta era reunir intelectuais, professores e estudantes da universidade, para homenagear o “santo da casa” que completaria 60 anos. Este, além de professor e escritor, trazia consigo uma vasta bagagem como poeta e artista plástico; além disso ele havia sido o fundador das revistas literárias Serial (Salvador) e Hera (Feira de Santana) e do Projeto Chocalho de Cabra (artes plástica). Enquanto autor de uma obra singular, artífice de novas propostas estéticas e visto como um expressivo agitador cultural, conseguiu-se retraçar a sua trajetória, discutir e analisar criticamente a sua obra e o Colóquio foi  um sucesso.

Nessa época entrevistei Brasileiro – até o presente ele não teve ocasião de ler ou ouvir essa entrevista – e recolhi informações inéditas, das quais publico alguns fragmentos, para homenagear o amigo, pelo avesso, perfil que muito aprecio.

LD : Quem é Antônio Brasileiro?

A B – De vez em quando eu gosto de dizer que a coisa mais importante no mundo –  eu sou um cara da linha de Epicuro – é conversar, reunir amigos; eu acho que a amizade é uma coisa muito importante. Eu sou essa pessoa que gosta muito de conversar… de ter um jardim. Agora, quem é Antônio Brasileiro, aí eu concordo com as definições de Roberval (Pereyr) sobre mim. Eu acho que sou um camarada meio complexo e talvez umas poucas definições talvez não fossem suficientes… eu gostaria de ser simples, mas cada vez mais eu vou descobrindo que ser simples é de uma complexidade absurda! É muito difícil.

LD – Você é polêmico, provocador? Dizem que você é tão amado quanto odiado…

AB – Na verdade… eu sempre achei que eu era 90% amado e só 10% odiado e ainda continuo achando, mas não entendo nada de matemática, de estatística… Mas, como vocês estão dizendo eu atribuo isso ao fato de ser independente, de ter a minha maneira própria de pensar; e quando a gente tem suas próprias idéias, pensa com os próprios pés (risos)… Então, para conseguir chegar ao lugar que a gente quer, a gente acaba incomodando, não é? O fato é que existe a antiga luta entre indivíduo e a sociedade. Desde os 15 anos de idade eu era leitor de filosofia… então, eu sempre respeitei a individualidade. Eu acho que as pessoas que eu mais respeito são aquelas que têm mais individualidade. As pessoas que eu amo, que eu admiro, são pessoas que são polêmicas por natureza… eu acho que tem que haver gregos e troianos e acho bom que seja assim, e é importante que seja assim. Eu acho que a liberdade passa por essa condição de ser amado e de ser odiado… se eu fosse morno, não seria nem amado, nem odiado.

 

LD: Agora responda rapidamente:

Uma cor – As cores do arco-íris

Um perfume – Cheiro de mato

Uma flor – Rosa

Um animal – Dois: Gato e galo

Um poeta: – Dois: Drummond e Pessoa

Um livro – Don Quixote de la Mancha

Música – Três: Sinfonia n0 9 de Bhetoven, o Réquiem de Mozart e as canções de Chico Buarque

Comidas preferidas – Legumes e carne do sol

Cidades – Rio de Janeiro e Paris

Um desejo – Viver uma vida calma

Um sonho – Ter meus livros publicados por uma grande editora

Uma realização – O Grupo Hera – Minha maior criação e motivo de muito orgulho.

 * – Texto publicado originalmente no Caderno Cultural do Jornal A Tarde (Salvador – BA) em 13/06/2009, p. 6.

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