Visitei a Ilha de Itaparica pela primeira vez no final dos anos 70, num feriado prolongado do 07 de setembro. Éramos um grupo de aproximadamente 9 amigos, todos jovens; atravessamos a Baía de Todos os Santos numa barca, embora o ferry-boat já permitisse a travessia entre Salvador e a Ilha. Ficamos hospedados na casa dos pais de um dos amigos, em Mar Grande, que na época era uma vila sossegada. À noite, com a lua cheia iluminando o mar, íamos para a praia tocar violão e cantar, para a lua e para Salvador, que nos espiava do outro lado da baía. Aquelas imagens permanecem vivas na minha memória e lembro-me com muita saudade daquele tempo feliz e despreocupado, tempo bom em que se dormia com as janelas abertas ouvindo o marulhar das ondas embaladas pela brisa. Daí em diante, sempre que pensava em passeio, em férias, ou simplesmente em me oferecer paz e beleza, pegava a sacola e rumava para a Ilha.
Acontece que os tempos mudaram; a Ilha de Itaparica, que foi descoberta em 1º de novembro de 1501 por Américo Vespúcio, também mudou, não é mais a mesma.
Os terrenos próximos às praias calmas da costa atlântica, habitadas sobretudo por pescadores, foram comprados para especulação imobiliária e vendidos para a construção de condomínios fechados, em nome do progresso; como diz João Ubaldo Ribeiro, “um progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles”… Com o “progresso”, também a violência se instalou, facilitada pelo acesso fácil e pela inoperância do policiamento local. Agora dizem que vão construir uma ponte, mas como diz, ainda, João Ubaldo, “esse progresso é na verdade uma face de nosso atraso. Atraso que transmutará Itaparica num ponto de autopista, entre resorts, campos de golfe e condomínios de veranistas, uma patética Miami de pobre. E que, em lugar de valorizar o nosso turismo, padroniza-o e esteriliza-o, matando ao mesmo tempo, por economicamente inviável, toda a riqueza de nossa cultura e nossa História”.
A Ilha de Itaparica fica a 13 km de Salvador e é a maior das 56 ilhas da Baía de Todos os Santos. Além da importância histórica e singularidade geográfica, ela possui um conjunto arquitetônico dos mais aprazíveis, praias de águas mornas, cultura rica e diversificada, artesanato próprio e culinária das mais apreciadas. Ela tem como vias de acesso, os ferries-boats, as barcas, e uma ponte, na contra-costa, que a liga ao continente.
A Baía de Todos os Santos é a maior e uma das mais belas da costa brasileira. Sua ilhas, com praias e vegetação tropical, guardam monumentos de grande valor histórico e encantam os nossos olhos com o seu cenário, pontilhado de igrejas e capelas, fortalezas e belos solares. Nos séculos XVII e XVIII, ela foi o maior porto marítimo do Hemisfério Sul. Além de abrigar 56 ilhas, ela recebe as águas doces de inúmeros rios e riachos, tem como paisagem de fundo a cidade do Salvador, a primeira capital do Brasil.
Itaparica foi emancipada de Salvador em 1833, mas só foi elevada à condição de cidade no século XX (1962); A Ilha abriga dois municípios: Itaparica e Vera Cruz. O município de Itaparica administra os povoados de Porto Santo, Manguinhos, Amoreiras e Ponta de Areia; Vera Cruz, por sua vez, tem Mar Grande como sede e conta com os povoados da Penha, Barra do Gil, Coroa, Baiacu, Barra do Pote, Conceição, Barra Grande, Tairu, Aratuba, Berlinque e Cacha Prego. A sua extensão é 246 km² e nela vivem cerca de 50.000 habitantes.
Uma das riquezas do município de Itaparica é a Fonte da Bica, fonte de água hidromineral, com características hipotermal e radioativa. Passou a ser considerada Estância Hidromineral em 1937. Ela está localizada no centro da cidade, onde as pessoas se abastecem gratuitamente, numa bela praça sombreada, e que guarda recantos de grande beleza.
Um pouco de História
Os índios Tupinambás foram os primeiros habitantes do lugar, daí a origem do seu nome, Itaparica, que significa “cerca feita de pedras”, talvez em razão da barreira de arrecifes naturais voltada para o Atlântico, de aproximadamente 15 km de extensão, o que permite a formação de piscinas naturais de águas mornas e calmas, viveiro natural de polvos, lagostas e mariscos. A maioria destas praias tem águas rasas, mansas e mornas.
Mas o povoamento da ilha nasceu na contra-costa, com a criação pelos Jesuítas, em 1560, de um pequeno povoamento onde hoje se localiza a vila de Baiacu, então denominada Vila do Senhor da Vera Cruz. Ali foi erguida, na mesma época, a primeira igreja da Ilha de Itaparica (2ª matriz do Brasil) em homenagem a Nosso Senhor de Vera Cruz, o que justifica também a origem do nome do município (Vera Cruz). Dessa igrejinha restam as ruínas, sustentadas por uma imensa gameleira.
Os religiosos também iniciaram ali, as culturas de trigo e cana-de-açúcar, além da criação de gado bovino. A pesca de baleias foi a sua segunda atividade econômica, chegando mesmo a ser explorada, entre os séculos XVII e XVIII, em escala industrial. Também proliferaram as destilarias e as fábricas de cal, que no século XIX, eram cerca de nove. Nesse período foram construídos sobrados senhoriais, existentes ainda nos dias atuais, e que hospedaram os imperadores Pedro I e Pedro II.
Quando da fundação da Vila do Senhor da Vera Cruz, hoje Baiacu, sob a orientação dos padres jesuítas, foi construída no local a primeira obra de engenharia hidráulica da então colônia, uma barragem para o abastecimento de água potável. Foi também em Itaparica, no engenho de Ingá-Açu, que se implantou a primeira máquina a vapor em terras brasileiras. A Ilha de Itaparica foi também local importante de construções navais. Nos seus estaleiros foi confeccionada e montada a primeira quilha da Marinha no Brasil e com o passar dos anos, os barcos e saveiros que embelezavam a Baía de Todos os Santos. Nesta época também existiam 5 destilarias de aguardente, além de fábricas de cal (nove, em meados do século XIX). Porém, a maior atividade econômica da Ilha foi a pesca da baleia, e em razão disso, ficou conhecida como Arraial da Ponta das Baleias. Rica e próspera, em 1763, a Ilha de Itaparica foi incorporada aos bens da coroa.
Os registros históricos sobre a Ilha dão conta de inúmeros eventos, entre eles, em 1510, a vinda do navegador português Diogo Álvaro Correia, o “Caramuru” que, enamorado da índia tupinambá, Paraguaçu, filha do cacique Taparica, desposou-a. Em 1597, a ilha foi invadida pelos ingleses e entre os anos de 1600 e 1647 ela foi invadida pelos holandeses, que chegaram a construir uma fortaleza, o Forte de São Lourenço, hoje no centro do município de Itaparica e em excelente estado de conservação, ponto de atração turística e ponto de encontro de jovens e boêmios.
Lenda Indígena
Conta-se, segundo a lenda indígena tupinambá, que no começo do mundo, um majestoso pássaro de plumas brancas alçou vôo do centro do universo e seguiu dias e noites sem parar, à procura do paraíso para pousar. Quando avistou o local que buscava, caiu exausto sobre ele e morreu. No seu leito de morte, suas longas asas transformaram-se em praias e, no lugar em que o coração bateu, a terra abriu-se formando uma grande e profunda depressão que as águas do mar invadiram, reservando seu centro para uma ilha que seria a rainha de todas as outras. Assim nasceu Kirymuré, para os índios e assim nasceu a Ilha de Itaparica no imaginário de sua população nativa. Um local de beleza, inusitada, mistérios, magia e muitas histórias.
Fotos: Leni David
Algumas das informações deste post tveram como fontes: Bahiatursa e Itaparicainfoco
Muito bom conteúdo!
Ta de parabéns,
Abraços
gostei do conteúdo muito rico, acrescentou em meus estudos..bjs
Adorei o conteúdo, muito bom !
Abraços do amigo
Muito interessante e instrutivo o texto sobre Itaparica. Suas fotos também estão muito bonitas. Parabéns e muito sucesso!
Muito obrigada! Fico feliz, pois mesmo em fase de construção os leitores estão aparecendo. Fico feliz e mando um beijo!
Oi Leni!
Hoje entrei no google para procurar um texto antigo que você publicou no blog e fiquei super feliz de encontrar esse novo “De tudo um pouco”. Divulgue logo!!! Eu fiquei super feliz com esse achado! Beijos!
Pois é, fiquei surpresa ao encontrar comentários no blog sem ter, ainda, anunciado a sua existência. Mesmo assim, isso é um bom sinal. Obrigada pela visita, Mariza!