Festa nacional francesa – 14 de julho

 

 

Essa data é histórica não só para a França. Ela é conhecida em todo o mundo e frequentemente representa uma virada da história, a da passagem da monarquia absoluta para regimes republicanos.

A Bastilha, ao ser tomada, faz caírem com ela as monarquias absolutas, além de marcar de maneira simbólica o início de novas aspirações das quais a “declaração dos direitos do homem”, de agosto de 1789, definirá os principais valores que ainda hoje são referência e inspiraram largamente a “Declaração Universal do Direitos do Homem” adotada em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

Data revolucionária francesa que se tornou festa nacional, hoje o 14 de julho associa desfiles militares e festejos com bailes e fogos de artifício. A tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, é comemorada na França há mais de um século.

A tomada da Bastilha

Nos primeiros meses da Revolução Francesa, reinava uma grande agitação em Paris. Na primavera de 1789, os Estados Gerais recusaram-se a se dissolver e transformaram-se em Assembleia Nacional Constituinte. Em julho, o rei Luís XVI manda vir novas tropas e demite Necker, ministro popular. Na manhã de 14 de julho, o povo de Paris saqueia o Hôtel des Invalides (dependências militares destinadas a abrigar soldados feridos em combate) apreendendo armas e dirigindo-se em seguida a uma velha fortaleza real, a Bastilha. Depois de um sangrento tiroteio, ele ocupa a fortaleza e liberta alguns prisioneiros que ali se encontravam.

A tomada da Bastilha é uma primeira vitória do povo de Paris contra um símbolo do Antigo Regime. O edifício, aliás, foi totalmente demolido nos meses seguintes.

A “festa da Federação”, em 14 de julho de 1790, celebra com grande pompa o primeiro aniversário da insurreição. Em Paris, no Campo de Marte, uma missa é celebrada por Talleyrand, no altar da pátria.

 

A festa nacional

Nos anos seguintes, a comemoração do 14 de julho de 1789 é abandonada, até que a IIIª República, em particular Gambetta, então presidente da Câmara, procura celebrar os fundamentos do regime. Sob proposta do deputado Benjamin Raspail, a lei de 6 de julho de 1880 transforma o 14 de julho em festa nacional da República.

Desde o início, destaca-se o caráter patriótico e militar da manifestação, como um testemunho do reerguimento da França após a derrota de 1870. Todas as comunas participam. A festa tem início com um desfile solene com tochas e fanfarra da praça das armas à caserna, na noite do dia 13. No dia seguinte, os sinos das igrejas e as salvas de tiros anunciam o grande desfile, seguido de um almoço e de espetáculos de jogos. Os bailes e fogos de artifício encerram o dia.

Depois da austeridade da guerra de 1914-1918, o 14 de julho de 1919 é uma grande celebração da vitória. Dentro do mesmo espírito, o 14 de julho de 1945 é precedido de três dias de comemorações cívicas.

 

O 14 de julho hoje

A festa do 14 de julho sempre foi um grande sucesso. Em Paris, o tradicional desfile militar nos Champs-Elysées é precedido de uma minuciosa preparação. Por toda parte ocorrem bailes, iluminações especiais e exibição de fogos de artifício.

Os presidentes da Vª República acrescentaram algumas modificações às comemorações da data. Recuperando a tradição da Paris revolucionária, o Presidente Giscard d’Estaing criou o desfile das tropas entre a praça da Bastilha e a praça da República.

Durante a presidência de François Mitterrand, o 14 de julho de 1989 foi o momento alto da celebração do bicentenário da Revolução Francesa. Inúmeros chefes de Estado estrangeiros foram convidados a assistir, em particular, o espetáculo de Jean-Pau Goude intitulado “A Marselhesa”.

Em 1994, soldados alemães do Eurocorps participaram do desfile nos Champs-Elysées, como um sinal de reconciliação.

Desde a eleição do Presidente Jacques Chirac, inúmeros jovens vindos de toda a França e militares são convidados para a recepção realizada no pátio do Palácio do Elysée após o desfile.

Fonte: www.elysee.fr

Engenheiros franceses querem cobrir a Torre Eiffel com 600 mil vasos de plantas

 

Mesmo quem nunca esteve em Paris reconhece a importância e a beleza da Torre Eiffel. Mas e se, além de ser o maior representante da cultura francesa, o monumento se tornasse também um forte símbolo ecológico? É esta a ideia por trás do projeto criado pelos engenheiros ambientais do Ginger Group. Imagens divulgadas pela empresa e publicadas pelo jornal Le Figaro mostram os detalhes do conceito, que pretende transformar a famosa construção nos “pulmões de Paris”, de acordo com a reportagem.

Para cobrir a enorme estrutura de 327 metros de altura, seriam necessários 600 mil vasos de plantas. Os gastos para a realização da obra são estimados em 72 milhões de euros. O projeto, que seria executado até junho de 2012, conta com a ajuda do grupo Vinci e do arquiteto Claude Bucher. O brilho, uma das características principais da torre, não seria apagado: as plantas receberiam vários pontos de iluminação com lâmpadas LED. Ainda segundo o Le Figaro, o Ginger Group conhece bem o local, já que está envolvido na reforma do primeiro piso da Torre Eiffel. Se a ideia for aprovada, o monumento, que já recebe cerca de 7 milhões de turistas por ano, deve ganhar um número ainda maior de visitantes.

Fonte: Casa e Jardim online

Observação: Colaboração enviada por Lete e Glória. Muito obrigada, amigas!

Ah Paris, Paris…

Imaginou-se nos cafés de paris

lançando uma nova poética

e um baião enciumado ecoou longe.”

                           (Iderval Miranda)

Ignácio de Loyola Brandão, em artigo recente – “Dividindo o quarto com Garcia Marquez”, que me foi recomendado por Juraci Dórea, conta a sua experiência como hóspede do Hôtel des 3 Collèges localizado no coração do Quartier Latin, exatamente no número 16 da rue Cujas, um hotelzinho duas estrelas muito simples, mas simpático e limpo.

Nunca me hospedei nesse hotel, mas posso afirmar que ele é muito bem localizado. Vizinho à Sorbonne, pertíssimo do Panthéon, a dois passos do Jardim de Luxembourg e do Museu de Cluny, dedicado à Idade Média. Também fica muito próximo do famoso restaurante Polidor, que funciona desde 1845, serve o melhor Boeuf Bouguignon e a melhor Tarte Tatin de Paris, por um preço tentador e que recentemente foi cenário do filme Meia Noite em Paris. Para quem gosta de andar é muito fácil chegar, andando, até o Museu d’Orsay, ao Louvre, à Notre Dame, à Sainte Chapelle e a dezenas de outros monumentos reputados da capital.

Conheço bem o quartier. Próximo ao Boulevard Saint Michel, sempre animado e dotado de um comércio variado: livrarias, lojas de souvenirs, butiques, bons cafés e uma profusão de pequenos restaurantes que servem comida francesa, grega, espanhola, italiana, vietnamita, etc., por preços accessíveis. É evidente que o local não é recomendado para quem quer experimentar a comida dos grandes chefes da cozinha francesa.

No seu artigo, Ignácio de Loyola Brandão relata entusiasmado que ficou sabendo através de uma plaquinha de bronze na porta daquele imóvel, que naquele hotel, em 1957, Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de literatura, escreveu o romance “Ninguém Escreve ao Coronel”, o terceiro da sua carreira; feliz, ele descobre ainda, que o quarto que ocupavam – ele, a filha e uma amiga – era o mesmo que no passado fora ocupado pelo escritor. E constatou que o escritor húngaro Miklós Radnoti, um dos mais queridos pelos seus compatriotas, morou no Trois Collèges no final dos anos 1930 e que o poeta Raoul Ponchon viveu ali entre 1911 e 1937. Loyola esqueceu de citar, porém, que na mesma rua, quase em frente ao hotel em questão, encontra-se um outro, também muito famoso por ter abrigado nos anos 1940 o escritor Jorge Amado. Trata-se do Grand Hotel Saint Michel.

Na realidade, as placas nas entradas dos imóveis em Paris são comuns e contam histórias que só são percebidas por pessoas disponíveis, que por acaso ou por querer, descobrem fragmentos da história de pessoas que fugiram da rotina, pessoas que deixaram os seus nomes gravados para a posteridade. Não é preciso muito esforço para descobrir que um escritor, um inventor, um ator ou um revolucionário viveu ali. Há também as placas que homenageiam os “Heróis da Pátria”, locais onde pessoas perderam a vida em defesa de uma causa ou de um ideal, como os militantes da Resistência francesa. Há pouco tempo descobri o imóvel onde viveu Santos Dumont e confesso que fiquei feliz com o achado; a placa informava que ali, em 1903, ele havia estacionado o seu dirigível número 9; a antiga residência do aviador brasileiro fica no número 41 da avenida dos Champs Elysées.

Após a indicação do artigo por meu amigo, a internet me levou ao texto que comentei acima e, casualmente, a outro artigo de Ignácio de Loyola Brandão: “Sabendo francês podemos ser mais felizes”. Ele inicia a sua escrita afirmando que não é esnobe e assegura que para desfrutar Paris, a Provence e outros locais reputados, “sabendo francês, os prazeres multiplicam-se por cem, o desfrute por duzentos, a alegria por quinhentos. Mesmo que você tenha ido apenas para fazer compras, como a maioria dos brasileiros”…

Na sequência ele questiona alguns aspectos da vida moderna, entre eles o estudo de idiomas, e confere que nos dias atuais aprendemos apenas aqueles que o mercado chama de línguas úteis, como o inglês, o japonês e o mandarim. Loyola critica a eliminação de algumas línguas, que no passado eram estudadas no ginásio, como o francês, o latim e o espanhol, que ele próprio estudou e que considera importantes na sua formação. Lembra com carinho de uma antiga professora de francês, Donna Fanny, da época em que estudava em Araraquara e o quanto fora importante ler autores clássicos da literatura francesa, no original. Mas a crítica se torna mais severa quando comenta a maneira como são feitas reformas e mudanças no sistema educacional brasileiro, argumentando que, se isso fosse importante, o ensino atual deveria ser extinto, haja vista que ele não leva a lugar nenhum da maneira em que está estruturado. E ele continua: “Há na nossa vida algo que é preciso preencher. Uma necessidade interior de espírito, contemplação do mundo, da vida, avaliação das coisas. Encarar a existência como algo que precisa de alimento”.

Mas, como uma coisa puxa outra, alguns dias depois encontrei o artigo “Capital linguístico”, da jornalista Carolina Nogueira, que morou (estudou) em Paris durante quatro anos e que está de volta ao Brasil. Carolina tem um blog, Le Croissant, e também colabora com o blog do Noblat. Nesse artigo ela comenta a crônica de Ignácio de Loyola Brandão e tece considerações pertinentes a respeito de ser mais feliz por falar francês; lembra que o próprio autor chama a atenção sobre a polêmica que o seu texto pode provocar, quando pede para não ser tomado por esnobe, mas garante que não tem jeito; sempre haverá quem pense assim. E adverte que ela própria é taxada de “deslumbrada” nos comentários que recebe na sua coluna, Cartas de Paris.

Carolina faz um balanço da sua estadia na França, às vésperas de deixar Paris, e repertoria coisas que trará na bagagem: alguns novos melhores amigos. Dois novos diplomas. O seu amor pelo desenho recuperado e colocado em lugar de destaque em sua vida. Muitos livros. Mas, sobretudo, um idioma a mais. Um idioma que lhe abriu as portas para todos os outros itens da lista.

A constatação de que Paris volta com ela para o Brasil, graças ao “capital linguístico” é explicitada através das conquistas, da experiência do vivido, da maneira como enfrentou situações boas e ruins. Acompanho as “Cartas de Paris” há muito tempo e alguns questionamentos levantados por Carolina Nogueira nesse texto e em outros publicados anteriormente, também já me ocorreram.

Assim como ela, já fui chamada de deslumbrada, sabichona e dona do mundo, somente por ter defendido – ou esclarecido – alguns pontos de vista em relação à França e aos franceses e, algumas vezes, por ter corrigido a pronúncia de uma palavra, não por iniquidade, mas por mania, talvez por ser professora.

Na realidade, quem morou em Paris não é esnobe; pelo contrário é simples e bem resolvido. É alguém que realizou trabalhos domésticos sem queixas, alguém que embalou suas compras no supermercado, alguém que retirou o lixo de casa todas as manhãs sem fazer cara feia; alguém que completou o tanque de gasolina nos postos – na França não há frentistas – e que lavou os vidros de casa para permitir a entrada radiante de um raio de sol.

Mas também é alguém que visitou museus, viu lançamentos de filmes, visitou exposições, assistiu a espetáculos de dança e de teatro, assistiu a seminários e conferências proferidas por intelectuais de destaque no Brasil e no mundo; fez piqueniques nos fins de semana, enfrentou o duro inverno com temperaturas abaixo de zero. Aprendeu a sonhar com  a primavera e a esmagar as folhas de outono nas longas caminhadas nos bosques e parques próximos de casa. Enfim, é alguém que vê o mundo de um jeito diferente e que abandonou aquele olhar deslumbrado do turista que foi um dia, alguém que teve a chance de vivenciar uma experiência singular.

Quem viveu em Paris, ou em qualquer outra cidade do mundo, por mais de seis meses, antes de tudo foi aprendiz; depois se tornou guia espontâneo; tornou-se uma espécie de professor de escola maternal, quando levou pela mão amigos ou familiares sôfregos de novidades e descobertas. Foi tradutora nas lojas e restaurantes. Percorreu e ensinou caminhos, preparou aventuras gastronômicas, bizarras ou deliciosas; por gostar de compartilhar as belezas que aprendeu a desfrutar, essas aventuras inusitadas eram alimentadas pelo carinho, pelo sorriso, pelo amor.

Mas todos os adjetivos se tornam pobres e insignificantes se comparados aos prazeres que a experiência de ter vivido na França, sobretudo na cidade luz, proporciona a um ser humano; os amigos de toda vida, que nos oferecem a cama mais aconchegante e a mais bonita. Os jantares e almoços elaborados, de dar água na boca, regados a vinhos especiais tirados da adega em nossa homenagem. Festas inesquecíveis na Bretanha, na Normandia, na Borgonha, no Tarn, na Champanhe, no Auvergne ou na Provence. Amigos que nos querem sempre, ao longo dos anos, e que a cada encontro, muitos anos depois, renovam a certeza de que eles fazem parte da nossa vida. Essas coisas que enternecem o coração estão intimamente atreladas aos momentos vividos, às experiências adquiridas, ao aprendizado de uma nova cultura, em um país onde se respira arte e história.

Por isso concordo com Ignácio de Loyola Brandão e com Carolina Nogueira. Sabendo francês podemos ser mais felizes, sim. E tenho a impressão de que a afirmativa é válida para qualquer idioma. Podemos ser mais felizes ao brincar com uma criança, escutar histórias de um ancião ou compartilhar as experiências de um trabalhador ou de um feirante que merca os seus morangos ou as suas cerejas em um país estrangeiro. E tudo isso, além do capital linguístico citado por Carolina Nogueira, está intimamente conectado ao preenchimento da vida, à contemplação do mundo e à avaliação das coisas, como quer Loyola, ou seja, ao jeito de encarar a existência como algo que precisa de alimento. E isso é patrimônio, dos bons, que ninguém pode usurpar; ele nos pertence de fato e de direito. É conquista, experiência, riqueza imaterial adquirida.

Leni David

Feira, 28/11/2011.