Boniteza
A menina ficou olhando a mãe, enquanto ela espremia laranja, cortava o mamão, colocava a fatia de pão na torradeira e despejava pó de café no coador.
A mãe andava de um lado para o outro, entre a copa e a cozinha, a mesa e o fogão. A menina acompanhava com os olhos cada passo da mãe. A mãe percebeu e perguntou por que você me olha tanto, minha filha? Está me achando bonita?
A menina respondeu que sim e quis saber:
– Será que um dia vou ser tão bonita quanto você?
– Você já é bonita, meu amor. Você é linda – disse a mãe, dando um beijo na testa da menina e levantando com os dedos os fios de sua franja.
A menina bebeu suco, comeu mamão, tomou café com pão, colocou a mochila da escola nas costas e, antes de sair, parou diante da porta:
– Sou bonita mesmo?
– A mais bonita que eu conheço.
– Que bom. Vou dizer isto ao Serginho, um menino bobo que está me esnobando.
Alecrim
O menino seguia com o cachorro, conduzindo-o por uma coleirinha improvisada de corda, e o homem que estava parado na esquina quis saber:
De quem é esse cachorro?
– É meu – respondeu o menino.
– Como é o nome dele?
– Alecrim.
– Isso não é nome de cachorro.
– Não?
– Não. Nome de cachorro é Rex, Guerreiro, Tupy… Alecrim é nome de tempero.
– Lá é casa é nome de cachorro…
– Está bem. Que idade tem ele?
– É novo. Tem a minha idade.
– Sei. Você empresta para eu dar umas voltas?
– Não.
– Eu sempre quis passear com um cachorro. Eu te empresto a minha bicicleta.
– De jeito nenhum.
– Tem medo de eu não devolver? Se eu sumir com ele, você fica com a bicicleta. É bem mais nova do que o Alecrim.
– Pode até ser. Mas ela não lambe o meu pé.
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